segunda-feira, 9 de junho de 2008

Temp (*)

Talvez um dos grandes problemas da sociedade seja a necessidade da velocidade em todos os setores, tanto emocional, social, quanto profissional... João Epaminondas Virgulino Ostorgojijo é apenas mais um dentre milhões...

João acorda mais um dia... Abre os olhos e encontra a luz como sua maior inimiga, impedindo sua visão e causando dor. Levanta mesmo a contra gosto. O cheiro do café parece acordá-lo, diante do sono insistente e petulante.

Contra sua própria vontade levanta, busca sua xícara de café, toma em um único gole. Engole o pão em poucas mordidas... Loucamente corre contra o tempo, mais se molhando do que tomando banho, enfia as roupas com pressa, diante da dificuldade imposta pelo tempo escasso, levanta-se e corre em direção ao ponto de ônibus.

Corre e grita, em direção ao veículo em movimento. Alcança-o, mas não encontra um lugar vazio. Coloca-se então em um pequeno espaço, de pé, ao lado de um idoso a tossir e de uma senhora acima do peso que espreme ele contra o banco lateral. Depois de uma hora, avista sua parada de longe... alcança a corda, faz sinal, desce do ônibus e se dirige ao seu emprego.

Do ponto a loja são dez minutos de caminhada... o caminho tornasse maior a medida que o tempo passa. Os metros passam a se tornar quilômetros e os minutos se tornam segundos. O atraso é iminente e João, em um ato de puro nervosismo, joga seu relógio ao longe. Lembra da bronca que dará seu patrão pelo atraso e começa a sentir um desconforto no seu estômago.

João chega ... O patrão regula seu olhar e faz um leve sinal de negativo com a cabeça. O uniforme no armário está lavado e preparado para o uso. O corpo está suado e cansado da pequena maratona matinal cotidiana vivida por João. Oito horas passam como oito dias.

O caminho de volta aparenta ser mais lento do que o caminho de ida, o ônibus lotado contribui para o mal-estar da viagem longa. Enfim, à casa (digo barraco), João chega novamente, cumprimenta o cachorro como se fosse gente e olha no espelho apenas por costume. Come qualquer coisa e dorme um pesado sono de pouco mais de cinco horas.

Mais um dia nasce e a luta continua...

Quantas pessoas não vivem como João?
Quantas pessoas apenas passam e não vivem?
Do que vale viver na servidão do tempo?

Também sou um escravo do tempo, vivo o tempo que tenho no pouco tempo que resta e sinto que a cada dia tenho menos, olho no espelho e não me encontro a cada dia.
Sim... o tempo é o pior inimigo do homem... Mas o homem não tem tempo de reclamar dele.

(*) Desculpem o título, mas novamente advirto que esse não é o meu forte... e o tempo que tinha para digitar o "o", gastei vivendo um pouco mais...