quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Cagados anônimos

Esta seria a primeira reunião da qual Fábio participaria... Ele segue em direção as salas vazias e vê numa das portas a inscrição: "CA - Reuniões terças e quintas as 22h".
Entra na sala e se impressiona com a quantidade de pessoas que ali estão. Aproximadamente dez pessoas dispostas em cadeiras formando um círculo. Ao centro, o líder da reunião, Astrobaldo, que trata logo de apresentar Fábio para os novos colegas:
- Boa noite companheiros, este é nosso novo amigo Fábio, ele também está buscando ajuda e iremos ajuda-lo a seguir os 12 passos.
Todos respondem em uníssono:
- Boa noite Fábio. CAGADAS NUNCA MAIS!
Astrobaldo puxa uma cadeira para Fábio e pede para que ele conte sua história.
- Boa noite, meu nome é Fábio, tenho 30 anos e estou aqui porque não quero mais fazer cagadas. Eu reconheço, sou um mestre em fazer cagadas e preciso de ajuda.
Todos começam a aplaudir o Fábio e vão, um a um, abraçar o novo companheiro. Começa então a reunião. E os homens contam a própria história para ajudar o novo companheiro.
- Boa noite companheiros, meu nome é Júlio, tenho 43 anos e sou mestre em fazer cagadas, preciso de ajuda. Estou há oito dias sem fazer nenhuma cagada.
Todos começam a aplaudir, Olavo, faz sinal de positivo com a cabeça, impressionado com a marca de oito dias do companheiro Júlio, Sérgio e Carlos, também se olham impressionados.
- Bem a minha última cagada, foi na terça-feira dia 07, tinha que buscar minha filha na escola, desta vez graças ao apoio do companheiro Carlos, que me ligou lembrando o que eu deveria fazer, não esqueci minha filha na escola pela trigésima vez... O problema é que uma pessoa acostumada a fazer cagadas tem que ficar sempre atenta, qualquer distração e voltamos a fazer merda. Infelizmente, fiz... desta vez esqueci a Bárbara no metrô e tive trabalho até encontra-la. Mas desde então, SEM CAGADAS!
E todos juntos responderam: "CAGADAS NUNCA MAIS!!!!!!" E agradeceram a contribuição de Júlio para o grupo.
Sérgio começa a dar o depoimento:
-  Boa noite companheiros, meu nome é Sérgio, tenho 28 anos e sou mestre em fazer cagadas, preciso de ajuda! Estou há um dia e quatro horas sem fazer cagadas. Minha última cagada, foi no Shopping Center, ao buscar meu lanche derrubei o refrigerante em cima de uma velhinha que estava com o neto na praça de alimentação,  tentei remediar a situação, mas apenas serviu para as batatas voarem em cima da mesma senhora. Estou arrependido. CAGADAS NUNCA MAIS!
- CAGADAS NUNCA MAIS!!! - gritaram em uníssono.
O líder da reunião pediu a palavra.
- Meus amigos estamos todos unidos nesta reunião pelo mesmo motivo,  somos mestres em fazer cagadas... no nosso caso não se tratam de cagadas isoladas, mas sim de uma sucessão delas, um mestre das cagadas, geralmente caga pisa em cima e gira o pé. Muitos de nós perdemos o emprego,mulher, crédito com a família. Mas, podemos reagir. Podemos dar a volta por cima! Eu estou há exatamente...
Neste momento Astrobaldo levanta para dar mais força ao discurso e acaba esbarrando na mesa... no toque brusco do corpo contra o local a garrafa térmica de café cai sobre os papéis e começa a vazar... rola até o companheiro Geraldo, que ao tentar agarrar a garrafa, queima as mãos... Fábio faz um esforço para ajudar mas quebra a cadeira e despenca contra o chão.
A garrafa térmica se espatifa na sala e gira enquanto espirra café para todos os lados...
Astrobaldo volta ao discurso.
- Estou há 5 segundos sem fazer cagadas...
Obs. Enquanto estava lendo este texto pelo menos 5 milhões de pessoas faziam cagada em todo mundo e precisam de sua ajuda. Dados do "Ministério do Vai dar Merda" dão conta de que 85% das cagadas surgem com intenção de acerto. Estatísticas apontam ainda que o local de maior incidência de cagadas no país é Brasília. Lembrem-se um dia de cada vez.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Amo o frio em São Paulo

Eu amo o frio. Sim me julguem e detestem, mas principalmente quando estou em São Paulo, eu amo o frio.

A temperatura mais baixa faz as pessoas desta cidade mais dignas e cheirosas. Torna até o metrô e ônibus lotados agradáveis.
 
Sinceramente nenhuma metrópole merece viver no calor, deveria ser lei: "Qualquer cidade com mais de cinco milhões de habitantes sem praia não pode ter calor". 

Afinal, que graça tem o calor sem praia? É como futebol sem gol, rock sem solo, sei lá, na minha cabeça não faz sentido, sinto que falta algo...  Calor é para o Rio de Janeiro,  Santos, Nordeste, enfim, não para São Paulo. 

As situações se complicam num aglomerado urbano de 12 milhões de habitantes, em que quase todas as ruas são subidas ou descidas.

Não é fácil subir ladeira no calor, você chega suado no seu destino. E o transporte público? Não suporto aquele famoso caldo de rego nos lugares vazios... (para quem não sabe o que é um caldo de rego, uma breve explicação: Vem do grego "caldus regálicus", trata-se do líquido proveniente do espaço entre as duas nádegas. Este líquido sudorífico cisma em cair nos bancos de metrôs, ônibus e afins, quando está calor e o local é ocupado por uma pessoa que não cobre o rego devidamente). 

 Fora que quando está lotado fica muito pior, imagina viajar por quilômetros com o rosto colado no suvaco do indivíduo que está na sua frente... Acredito que o inferno seja algo parecido com um metrô da linha vermelha no horário de pico de uma segunda-feira quente. Reúne tudo que um local para martírio do ser humano precisa. 

Isso quando você não dá a sorte de um rapaz sem dentes com a camisa do Curintia subir neste metrô lotado, em horário de pico, em plena segunda-feira, com você com o rosto praticamente grudado no suvaco da pessoa da frente (que geralmente não usa desodorante). Em 90% das vezes este indivíduo odioso liga o celular tocando um maravilhoso funk ostentação. 

Quando chega no trabalho a situação pode ficar pior... Em São Paulo usar bermuda é um atestado de que você se trata de um vagabundo, sendo assim, 98,987% das empresas proíbem os homens de usarem bermudas, as mulheres no entanto podem ir trabalhar com saias, camisetas e afins... 

O problema é que isso causa uma verdadeira guerra pela temperatura ideal do ar condicionado, enquanto as mulheres querem um ar em 26 graus, nós homens necessitamos de algo mais ameno, entre 13 e 14 graus, pelo menos. 

Ah e dormir no calor em São Paulo, levando-se em consideração que se você deixar a janela aberta pode ter até a sua cama saqueada por marginais, seu sono dependerá de um bom ar condicionado ou ventilador, virado exclusivamente para você.

Por essas e outras eu amo o frio em São Paulo e por mim, aqui viveríamos num eterno inverno, um clima londrino seria o ideal.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Revelação do marido

Pouco antes de morrer Jorge percebe que é o momento de contar a verdade para esposa. 

Já são 20 anos de casados e ele não aguentava mais guardar no peito tantas mentiras...

Foi informado um dia antes pelo médico que teria pouco mais de um mês de vida e resolveu ir em frente, livrando a consciência antes da morte.

- Querida tenho uma confissão a lhe fazer antes de morrer.

Rita se assustou mas era um caminho sem volta e incentivou o marido.

- Pode dizer Jorge nada será pior que lhe perder.

- Pois bem mulher, tenho que lhe dizer...

A mulher trêmula se corroía de ansiedade antes de Jorge concluir, o que seria tão grande para durar 20 anos?  Seria outra família?  Traição? 

- Fale homem - disse Rita visivelmente transtornada.

- Certo Rita... vou ser obrigado a falar... seu feijão é horrível.

- O que? - disse ela num misto de susto e raiva.

- Sim, seu feijão é sem dúvida o pior que já comi, imagine meu sofrimento em guardar ano após ano este segredo. Além de ter sido devotado e fiel a ponto de comer esta massaroca insossa e pastosa por todo este tempo sem ao menos reclamar.

A mulher pasma com a revelação não soube o que dizer,  ficou imóvel e calada.

- Não sei porque tolerava isso. Sofri calado e tive que buscar satisfação fora de casa. Sabe as marmitas que me fazia para o almoço? Todas sempre foram para o lixo.  Mas o pior era o trabalho de remover os resíduos do terrível feijão da marmita.

- Mas como buscar satisfação fora? - indagou a já nervosa esposa.

- Comia no boteco do Jonas. Sim, eu comia lá todos os dias... como queria que seu feijão fosse igual o do Juremar, o cozinheiro do boteco. Mas não,  seu feijão é horrível... Cansei de viver em meio a estas mentiras.
A mulher não sabia o que dizer nem o que fazer...

Jorge só pensava em uma coisa: no feijão do boteco, em como seria triste morrer e nunca mais comer aquele feijão.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Antropologia amadora - parte I

Diante de meus estudos antropólogicos amadores avançados, sem nenhuma base científica e levando em conta apenas minha fraca noção de realidade, percebo que existem apenas 10 tipos de seres humanos e mais 10 subtipos de cada um desses que falei anteriormente.
Dentre estes tipos o que mais me irrita é o "bocas abertas, subtipo acomodadus".
Vai dizer que nunca viu um?
O "bocas abertas" trata-se de um ser humano lento, despretensioso, com risada de abobado e geralmente perdido. Costuma andar olhando para cima e lados para ver se sabe onde está e geralmente fica com a boca irritantemente aberta, o que justifica o nome.
O subtipo "acomodadus" como o nome sugere trata-se de um "bocas abertas" em estágio avançado, sem a menor pretensão de mudar...
Vamos para aplicação prática:
- No transporte público:
É aquele mala que entra devagar no metrô olhando para cima, ou fica parado na porta para esperar um vazio.  É aquele mesmo que num ônibus ou lotação fica de pé em frente a um lugar vazio impedindo que alguém sente.
- No trânsito:
É aquele que fica parado no sinal amarelo ou atravanca cruzamentos.
-Na escola:
É aquele que pergunta para a professora se pode ser em dupla de três e ri igual besta depois...
No trabalho:
É o que vive sugando alguém, afinal não sabe fazer nada.
No aspecto social costuma se relacionar bem com outros de seu subtipo e geralmente se reproduz junto com outro "bocas abertas acomodadus".
Isso acaba dificultando a miscigenação deste subtipo e faz com que eles perpetuem a espécie.  Segundo estimativas do DataIvan eles representam pelo menos 30% da população brasileira.

domingo, 20 de outubro de 2013

O cheiro da chuva

Saudades do cheiro da chuva.
Quando notava a água cair lentamente em pingos longos no muro com limo da casa da minha Bisavó.
As formigas em fila indiana carregando folhas fugiam em louca e desordenada debandada. Folhas caiam do muro, ou eram arrastadas pela água muro abaixo junto com as pequenas formigas que não largavam as folhas.
Isso, aquelas pequenas formiguinhas que se agarravam as folhas eram mortas com a força crueu de um chovisco de verão santista.
O cheiro de chuva aumentava, aos poucos o vento soprava fazendo o sol ficar mais brando naquele dia de verão.
Ouvia a bisa ao fundo gritar para minha avó: "Cida a chuva,  tira as roupas do varal".
Eu continuava lá, agachado vendo as formigas. Algumas nadavam e conseguiam sair das enormes gotas, outras eram carregadas.
A união tão decantada destes animais acabava em meio ao caos. Era cada formiga por si.
O cheiro de chuva aumentava e vejo pela janela aquela cabeça cobertura de cabelos brancos, olhos nevados pela catarata, um aspecto de cansaço e glória de quem muito viveu e muito tinha para contar.
"Ivan o que você está fazendo?"
"Vendo as formigas bisa" respondi assustado.
"Então entra antes que o homem do saco te pegue".
Mais rápido e assustado que as formigas corri para dentro de casa. Minha bisa pegou um pote com torradas e comi com ela tomando café com leite.
Muito melhor que ficar preso num saco, como uma formiga na gota.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Proezas esportivas II

Certa vez na Escola Municipal Duque de Caxias, em São Vicente, a professora de educação física Frida, formada na escola nazista de pedagogia Adolf Feliz, resolveu fazer uma doce competição de corrida, onde seriam eleitos pela ordem: o maior esportista e o mais inútil para o esporte de toda a classe.
Sim, nossa amável Frida usava delicados termos para tratar com os alunos de 11 e 12 anos.
Consciente de minha incrível aptidão atlética, comecei a pensar no que fazer depois desta maravilhosa competição.
Na aula anterior a professora explicou as regras, seriam três voltas completas na pista de atletismo do Quartel do Exército de São Vicente, meninos e meninas competiriam juntos. Seriam premiados com medalhas os cinco melhores de cada categoria, o último de cada uma delas seria eleito o pior esportista da classe, um incentivo para o crescimento pessoal, segundo ela.
Eis que chega o dia da competição. Eu estava devidamente paramentado, com o shorts de estrelas do Santos, camiseta branca e tênis all star (que para meu desespero escorregava naquela b... de pista).
Me posicionei entre os primeiros na largada, a amavel professora apita e começa o desespero,  digo, corrida.
Os 20 primeiros metros foram de euforia. Pois estava em quinto... estava.
Eram 40 competidores, sendo 18 meninos e 22 meninas, ao término da primeira volta já aparecia na honrosa 25º posição.
O destaque foi a ultrapassagem da menina manca e gorda. Ela devia estar possuida, pois me ultrapassou e ainda fez vento.
A segunda volta foi uma tortura, o pelotão da frente (os 30 primeiros) me deram uma volta.
Consegui recuperar a posição da gordinha.  Era agora 31º.
Foi então, que percebi, evitar a ultrapassagem da gordinha manca era questão de honra.
Esse virou meu objetivo e corri tudo que podia, alguns outros me passaram? Sim, mas a gordinha manca não.
Faltando cem metros o desespero começa a aumentar. A gordinha de maneira sádica olha em meus olhos e sorri para mostrar que ainda tem fôlego para um sprint final.
Não fiz por menos, corri meu máximo também. Na linha de chegada tomei um jogo de corpo da gordalhuda e perdi a posição...
Ainda hoje desconfio que aquela menina estava dopada. Mas tudo bem encerrei a corrida em 36º. E assim a delicada Frida me premiou com meu primeiro título esportivo, de pior atleta da classe.
Mas as proezas esportivas não terminam por aqui, bem isso fica para outras histórias...

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Skinhead e o proctologista

Este é o momento chave da vida de Roberto. Finalmente colocará em prova seu machismo diante do dedo em riste do proctologista.

Roberto é um skinhead convicto. Maldoso e sanguinário. Mas o que fazer é hora do exame de toque retal, 45 anos, dores nos testículos;, dificuldades para urinar...

Não tem jeito o nobre membro ariano terá seu ânus explorado pelo médico.

Já na sala de atendimento começa o martírio do aprendiz de Hitler. Olha para a atendente e vê em volta dele os outros pacientes na sala de espera, um homem negro, um japonês, um homossexual escandaloso e um senhor nordestino. Claro que na cabeça de Roberto existe apenas um pensamento: agredir todos.

Olha para atendente. Uma mulher negra de baixa estatura e voz fanha. Se comunica com o tom de voz baixo e tímido:
- Tenho exame marcado com o dr Rubens.

Ela responde num tom de voz alto e estridente:
- Toque retal é na terceira sala a direita senhor.

Roberto olha constrangido para o lado e vê o senhor nordestino rindo.
Pensa em matar, mas lembra de onde está e "apenas" brada meia dúzia de insultos.

Segue até a sala do dr Rubens. Entra e encontra uma enfermeira loira e se sente confortável. Ela apenas orienta friamente:
- Siga até a cama tire as calças e espere de bruços.

Que cena engraçada. Um skinhead machista e convicto em posição constrangedora tomando um vento sul em suas nádegas expostas.
Eis que encherga de relance a chegada de dr Rubens.

Qual não foi a surpresa dele ao perceber que o homem que ajeitava as luvas era um senhor negro com pinta de jogador de basquete.
Era o fim para Roberto. O subconsciente dele martirizava até a alma o machismo e todos os preconceitos pré-existentes.

- Bom meu camarada é hora de fazer o exame.

Sim era o fim dr Rubens enfim crava o dedo para realizar o exame. Mas o telefone do médico toca:

- Alo, oi amor então estou examinando o paciente. Claro que vamos. Separa nossas malas de viagem por favor...

A conversa durou um minuto como se nada estivesse acontecendo.

Roberto estava acabado,  indignado,  humilhado. Mas poderia piorar. Finalmente o exame acaba. O médico levanta. Joga as luvas fora e com três tapinhas nas nádegas de Roberto anúncia de maneira natural:

- Por hoje acabou meu amigo. Em seis meses nos vemos de novo.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Na sede da CIA

Enquanto isso na sede da CIA... (*)

- Caro Wilfred, acho que encontrei um deputado suspeito em meio as nossas escutas. Ele deve ser o mais inteligente deles, pois manda mensagens cifradas...

- Sim Jones, creio ser um homem muito esperto para tentar nos enganar.

- Afinal o que será que ele quis dizer com: "Ti mininu lindiu", Wilfred?

- Realmente Jones, o que seria "Abextadu" seria uma espécie de gíria para petróleo?

- Estou assustado Wilfred, ele deve ser algum fundamentalista radical. Afinal foi o mais votado nas eleições.

- Isso mesmo Jones, avise todos e mandem aumentar as escutas no gabinete deste tal de "Ti-rui-ri-car".

- É Ti-ri... Tiririca, Wilfred. Avisarei o Obama!

(*) Este Blog recebeu visitas de Washington... cuidado ao comentar.

sábado, 27 de julho de 2013

Revolução no Facebook? #partiucagar

Nos últimos meses presenciamos o chamado "despertar do gigante". Diversas manifestações espalhadas pelo Brasil, pegando carona em eventos de repercussão mundial e chamando a atenção para a insatisfação do povo brasileiro com tudo que envolve a política e os problemas sociais do nosso país.

Sim o Facebook, ou feicibuque, teve papel fundamental nesta movimentação popular. As pessoas se mobilizavam pela rede social e discutiam os temas das manifestação por lá também. Seria a democratização da informação, o anarquismo das ideias em busca de uma revolução social. Bem seria, como os próprios usuários da rede falam: #soquenao.

Como já esperava, alguns caciques políticos, cobras velhas criadas, "que dão até nó em macarrão cru" passaram a se aproveitar da situação. A população, como era de se esperar, seguiu como massa de manobra...

Não era difícil ler posts em que cientistas políticos de mesa de bar, diziam que:

"Essa presidente é uma inútil, tem que vetar a PEC37" (Projeto de Emenda Constitucional, ou "o" PEC não pode ser em hipótese alguma votado por chefe do executivo).

"Tem que acabar com o PT para acabar com a corrupção" (É, talvez quem escreve coisas do gênero, talvez jamais tenha lido a "Privataria Tucana" escrito pelo colega Amaury Ribeiro Jr).

Ou até mesmo víamos coleguinhas de Face chegarem ao ponto de pedirem a volta da ditadura... (A esses eu faço questão de não emitir minha opinião...)

Antes de mais nada, deixo claro não sou petista, longe disso, mas não é possível as pessoas chegarem a ignorância de imaginar que um único partido é a origem da corrupção.

Não é possível que depois que grande parte da população para de acreditar na chamada "grande mídia" passa a acreditar fielmente no que é escrito, sabe-se lá por quem, no Facebook...

Notícias como: "A presidente quer dar um golpe de Estado", "O governo comprou a Copa das Confederações", "O filho do Lula fez isso e aquilo", "Médicos cubanos vão trazer o comunismo para o Brasil" se tornam cada vez mais comuns e o incrível é que as pessoas acreditam fielmente, não procuram saber as fontes, não se informam verdadeiramente.

Fica evidente que antes de qualquer revolução social, o primordial e necessário é uma revolução educacional. Precisamos que todos tenham o hábito de ler, a capacidade de contestar e contextualizar uma leitura, com um vasto repertório.

Enquanto isso seremos apenas um grupo de gado, sendo tocado ao bel prazer daqueles que nos governam... Sinceramente até as trivialidades publicadas na rede social como os #partius da vida, são mais interessantes, sendo assim #partiucagar.

domingo, 30 de junho de 2013

Proezas esportivas parte I

Bem, eu nunca fui o que pode ser chamado de atleta nato, mas como deveria ser, sempre desafiei minha própria natureza, conquistando assim proezas esportivas da melhor qualidade.
Talvez as maiores proezas foram reservadas para o futebol, meu esporte favorito, que eu amo intensamente, mas é quase um amor platônico, pois amo o futebol na mesma medida que ele parece não ir muito com a minha cara...
Um dos episódios inesquecíveis foi a minha estreia como jogador juvenil na várzea de São Vicente. Aos onze anos estreiava no sub-12 da Sociedade Esportiva Rio Bonito da Cidade Náutica... Ou apenas Rio Bonito como era carinhosamente chamado.
Minha carreira como jogador na várzea (resumida a 12 jogos, que culminaram com minha aposentadoria aos 12 anos) teve um início épico. Para meu desespero, minha avó e meus pais seriam testemunhas da tragédia quase certa que cercaria aquela partida.
Tudo caminhava bem nos minutos anteriores, uniforme perfeitamente arrumado, chuteira devidamente amaciada, camisa 17 (meu número da sorte). Todo o clima da partida tomando conta de mim. Seu Sílvio meu primeiro (e último) técnico sentindo-se pressionado pela presença da minha torcida particular resolveu promover minha estreia já como titular.
Seria um amistoso entre Rio Bonito e PSV. Grande jogo, clássico das categorias de base de São Vicente. Estava começando a ficar confiante, meu cabelo cumprido molhado e para trás, a estatura e a posição de centro avante me davam o aspecto dos verdadeiros matadores italianos (bem apenas o aspecto, o que se viu na prática...).
Me reuni com os demais jogadores, rezamos o Pai Nosso. Fizemos a famosa corrente, antes de gritarmos "Rio Bonito!" todos juntos, num único coro...
Olhei para toda a torcida, seis pessoas, somando os meus três parentes... Metade gritava meu nome. Seria a glória de uma grande estreia... Comecei a me contagiar, me sentia confiante. Ao pisar no gramato (uma mistura de terrão com mato) peguei um tufo amarelado da "grama" e fiz o sinal da cruz antes de entrar em campo me aquecendo.
Quem olhava pensava "este é craque". Incrível como estes julgamentos mudam rapidamente.
Juiz apita, começa o jogo. Bola pra direita, eu para esquerda, bola para a esquerda, eu para a direita. E nos primeiros 15 minutos, consegui me manter longe da bola.
Até que, numa jogada genial o camisa dez do time dribla cinco adversários e rola para trás, aquela bola que nada mais é do que a redenção de um grande atleta, aquele lance que pode coroar um grande artilheiro.
Pois bem, livre da marcação de qualquer zagueiro, não pude escapar da marcação mais cruel, a da natureza, num lance que poucos conseguiriam repetir, chutei meu tornozelo esquerdo com o peito do pé direito, fazendo uma autofalta violentíssima. Resultado... perdi um gol que parecia imperdível.
Agora estava lesionado e jogaria no sacrifício, mas por pressão da torcida, incluindo meus pais... fui substituído.
Mas um artilheiro sempre brilha. No meu 9º jogo marquei meu primeiro gol, num raro toque de bola esquerda... Isso mesmo... Mas isso é outra história...

sábado, 1 de junho de 2013

Janela

Charles olhou para a janela, queria ver se tinha algo de diferente acontecendo para fora de casa.
Dentro da casa dele tudo igual, nada de novo...
Um pouco de medo, um pouco de dor, mas nada de novo.
Olhou para fora e viu um carro passar,
viu um bêbado tropeçar,
um vagabundo arrotar.
Olhou para dentro e não viu nada de novo...
nenhuma novidade,
olhou para fora e viu um casal se beijar,
uma criança aprendendo a andar,
um loro a falar...
Nada de novo, nada de novo,
mas lá fora...
um rato a correr,
um cachorro a comer,
um pecador a se arrepender.
Mas dentro, nada de novo, apenas aquela sensação de que nada irá acontecer
Mas na janela, um mundo inteiro a girar,
milhões de carros a passar
pessoas a pensar,
vidas a viver...
Charles então fechou a janela,
fechou a cortina,
apagou as luzes
e foi dormir
quem sabe sonhando algo de novo acontece?
A janela só se abre quando estamos sentindo e não pensando.
Quando estamos vivendo e não reclamando,
ou quando simplesmente estamos sonhando...

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Quem vai pagar pela morte do Lucas?

Já até cansei de me revoltar com o poder público... Mas casos como o do Lucas me fazem pensar que infelizmente os brasileiros estão jogados a própria sorte e que as leis servem apenas de enfeite para os nossos governantes.

Lucas, um bebezinho de apenas dois meses de vida, estava internado desde o nascimento no hospital Santa Casa de Santos (de longe o melhor da deficitária saúde pública da Baixada Santista). Foi constatado nele um sério problema cardíaco, que necessitava de uma cirurgia possível apenas em São Paulo. Para o transporte seria necessário um helicóptero.

Foram obtidas pela família de Lucas três ordens judiciais para que o transporte fosse feito. Mas imaginando estar acima de qualquer lei os governantes do Estado de São Paulo ignoraram o poder judiciário e desprovidos de qualquer sentimento humano deixaram a criança morrer.

Pare e pense. Se você deixar de cumprir uma ordem judicial o que acontecerá com você?

Mas e quando o Estado deixa de cumprir e acaba ceifando a vida de uma inocente criança de apenas dois meses de vida? Quem paga por isso?

É fácil perceber que ninguém pagará... Sim o mesmo governo que criou "a bolsa crack", o mesmo governo do partido que critica veementemente o governo federal não disponibilizou um único helicóptero que poderia salvar a vida do pequeno Lucas...

Uma criança inocente perdeu a vida. Se fosse filho de algum político isso aconteceria? Será que o governador de São Paulo que é um admirador de estatísticas vai dizer que foi apenas uma morte em meio a milhões de habitantes? Qual será a desculpa?

Quando nosso povo vai se revoltar? Quantas crianças precisam morrer?

Perco pouco a pouco minha esperança com este país, pois a passividade do nosso povo resulta na nossa realidade de abandono. Enquanto não nos revoltarmos contra o nojento poder estabelecido seremos obrigados a pagar com vidas inocentes como a vida do pequeno Lucas.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Esmola na Sé


Centro de São Paulo, 17 horas, mais precisamente na Praça da Sé. As pessoas nesta cidade tem a mania de andarem aos milhões sem perceberem nem mesmo quem está ao lado, em meio a este formigueiro de gente, pense em um mendigo tentando pedir esmola...

Vamos mais além. Imagine que por ser a praça que fica em frente a estação mais movimentada do metrô de São Paulo, este nobre morador de rua enfrenta a concorrência de pelo menos outros 300 na mesma situação que ele.

Alguns chamam a atenção:

Joquias por exemplo, vive pedindo esmola na Sé e imediações, sua abordagem é simples, direta e sincera:

- Ô dotô me dá uma moeda pra compra uma cachaça! (Impressionante a sinceridade dele, chega a me empolgar o fato de ainda existir uma pessoa tão sincera...)

Pois bem Joquias como você deve imaginar, não tem tanto sucesso com seus pedidos, mas vez ou outra um cachaceiro sensibilizado com o sofrimento do irmão de cana lhe dá alguma coisa para beber.

Outro exemplo incrível é o da dona Raimunda, que tem como público alvo senhoras de alta classe:

Ela vive com um cachorro (muito bonito, apesar de sujo) e aborda as pessoas da seguinte maneira:

- Ô moça, me dá um dinheiro para comprar de comer para o meu bichinho! (genial, 90% das pessoas medíocres sentem mais pena de um cachorrinho com fome do que de um ser humano).

Claro, dona Raimunda é a que mais arrecada, as vezes penso que ela já deve morar no Pacaembu, deva ser dona de uma frota de carros caros, tudo graças a abordagem com tática genial para pedir esmolas.

Tem também a dona Hanhanonamininihachicawa, uma índia de 1,25 m de altura que vive cercada com seus filhos (uns 20 indiozinhos, nenhum deles num pequeno bote), evidente que não obtém o mesmo sucesso de dona Raimunda:

- Ajuda eu moço, compra um colar, ou dá um dinheirinho... (Sério não consigo reproduzir o sotaque dela, também não sei se é índia, boliviana, paraguaia, ou uma mulher com cara de índia).

Sério dona Hanhanonamininihachicawa deve receber menos dinheiro até do que o cachaceiro... pelo que observei apenas as senhoras da igreja da Sé costumam dar comida para ela e os pequenos rebentos. Desculpe a injustiça, alguns hipes também dão alguma moeda.

Mas sem sombra de dúvidas o que mais me chamou a atenção foi o seu Malaquias (Não, ele não é um profeta, mas tem uma barba e cabelo dignos de um, além de andar com uma manta nas costas).

Malaquias muda todos os dias de abordagem, seu público alvo é... quem conseguir, mas um dia desses ninguém dava nada para ele, nem um tostão:

Sua revolta foi tanta que passou a gritar no meio da praça:

- Vocês são todos uns ingratos, eu sim tenho consciência social e sei dividir as coisas. Moro na maior casa do mundo e ainda deixo todos vocês entrarem!
Resultado... me senti culpado e dei dinheiro para aquele senhor que me empresta todos os dias a casa dele...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Homem do tempo


Certo dia Inácio encontrou o homem do tempo, mas não é aquele que prevê o tempo na televisão. É o homem que controla o tempo e o espaço... ele fica com a chave do relógio na mão e mexe os ponteiros como bem entende... Fazia tempo que Inácio queria acertar as contas com ele. Não teve dúvidas. Ao vê-lo apontou o dedo indicador antes de gritar:
- Ei, espera aí, meu amigo!
- Pois não?
- Há muito tempo quero lhe encontrar seu canalha!
- Como assim?
- Não se faça de desentendido, pode voltar no tempo e notar que sempre tento te pegar... Sempre te chamo de nomes nada agradáveis em pensamentos... Ah, mas agora eu te peguei, encontrei você! Queria muito lhe perguntar, o que você tem contra mim?
- Mas...
- Sem mais nem menos seu paspalho, estou perguntando qual o seu problema...
- Eu não tenho nada contra você e tenho que ir, estou com pressa...
- Pressa, pressa, pressa... Sempre que quero algo você está com pressa, parece brincadeira! E o pior de péssimo gosto!
- Como?
- Simples, nos momentos mais agradáveis da minha vida tudo passou de pressa, meus momentos de amor, de felicidade, meus finais de semana, minhas férias! Tudo, simplesmente todos os momentos felizes passaram rápido!
- Não foi bem assim.
- O pior meu camarada é que os momentos ruins, todos aqueles de dificuldade e esforço, ah esses demoraram uma eternidade! Como os dias que me machucava, que brigava, que trabalhava arduamente. Sim, os momentos de tristeza, de dor... Por que? Por que? Me responda seu idiota!
- Meu amigo, você está nervoso e me parece não ter sabedoria para perceber o óbvio.
- Hã? Isso é mais uma ironia do tempo?
- O tempo é o mesmo sempre. Tanto nos momentos felizes quanto nos momentos tristes. O problema é que o ser humano tem o dom de complicar tudo por si só... Nos momentos felizes de sua vida o tempo era exatamente o mesmo dos momentos tristes, a diferença era a sua percepção. O tempo só é percebido quando está no fim quando você está feliz. Já quando está triste, a única coisa que quer perceber é o final do tempo. Ou seja, sua ansiedade é o problema, não o passar do ponteiro!
- Mas e agora o que faço? Afinal como recuperar o que passou e gostei tanto, pode voltar uns ponteiros?
- Meu amigo você não precisa voltar no tempo, deixei um compacto dos melhores momentos no seu coração, a sua memória. Assim pode voltar no tempo quando quiser e lembrar que ninguém pode tirar de você o que está dentro de ti. O seu passado é só seu e somente você sabe o que passou para chegar aqui. Mas lembre-se ao pensar no passado, seu presente escorrerá sobre suas mãos, correrá o risco de seu futuro ser apenas um replay do seu passado. E isso é algo que nem mesmo eu, com todo meu sadismo, gostaria de ver.
Ultrapassando os filetes do tempo o Homem do tempo foi embora levando consigo seu grande relógio de ponteiros velhos. Inácio parou e pensou por alguns segundos, depois lembrou que seu tempo estava passando e resolveu parar de pensar, para poder viver.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Celular no metrô

Metrô da linha vermelha (Itaquera – Barra-Funda), 19 horas de quarta-feira:

Uma mulher loira de uns 45 anos pega o celular e atende de maneira tão discreta que as pessoas do último vagão poderiam escutar a conversa...

- Alô!!!!!!!

- Oi Romivaldo!!!! Então qui nem eu ti falei, si vié mi busca na Lapa eu vo durmi cum você... Caso contrário esquece!!!

- Ah Romivaldo aí não! Não vou aguentar andar isso tudo não!

- To sim Romivaldo, não conhece a sua gostosa não?

Nesse momento uma senhora de vestido até o pé, olha com reprovação e começa a rezar...

Um senhor meio tarado passa a encarar a Giscleine (Não sei o nome dela, mas poderia ser Giscleine, tinha cara de Giscleine).

Eu continuo escutando, afinal queria ver no que daria aquela conversa!

- Cê sabe Valdo, sou sua gostosa!

- Vem cá, se for pra durmi comigo, vê se coloca a cueca que te dei e toma banhu desta vez, viu?

- Ok, mas pelo menos me deixa perto de casa...

- Tá bom Valdo saudades!!! Beijão bem demorado!!!

- Hahahahahahahahaha (risada mista de mulher de vida fácil com bruxa do filme “Convenção das bruxas”, nossa como tinha medo da menina no quadro...)

- Ai Romivaldo assim me deixa sem graça...

- To na Marechal Deodoro! Isso mesmo, corre!

Nesse momento Giscleine termina a ligação, e passa a ligar nervosa para outro número...

- Ai amor, não vou chegar cedo hoje não viu? (com voz de santa)

- Isso, mas assim que chegar eu compenso o atraso! Hahahahahahahahahahahahaha ( A mesma risada medonha).

A velha do saião já balançava a cabeça mais nervosa, o tarado já sorria...

Enquanto um bêbado que estava no final do vagão, vem andando cambaleante na direção da Giscleine e grita pouco antes do metro parar na última estação:

- O que mais tem é corno neste mundo, é por isso que eu bebo!