sábado, 25 de outubro de 2008

love old history (*)

Birosvaldo Pereira Lima levanta às 6 da manhã. Faz seu aquecimento matinal, põe sua dentadura (que contém os caninos de ouro 18 quilates), se olha no espelho e, num misto de narcisismo com costume, demora muito tempo.Passa brilhantina no cabelo, põe sua calça jeans (Levi's - Birosvaldo não usa qualquer coisa), seu tênis de última linha e abotoa vagarosamente sua camisa florida deixando dois botões abertos para mostrar sua corrente de ouro.

Mais uma vez, confere seu sorriso e, por fim, coloca seus óculos escuros (modelo policial rodoviário).

Setenta e três anos de vida. Velho? Jamais.
- Minha vida só está começando...

A procura de um 'broto' (digo mina), sai o nosso querido amigo Birosvaldo (vamos chamá-lo de Biro para economizar o meu tempo e o seu!). Coça o cavanhaque e olha para os dois lados do calçadão da praia:

- Meu Deus, que brotinho!

Trata-se da Senhora Zeli!

- Senhora está no céu, seu infeliz!

Desculpe, desculpe... Zeli... Zeli...
Zelizeti Ferreira Albuquerque Costa, 70 anos, ou simplesmente Zeli (pelo amor de Deus sem o 'senhora') também acordou às 6 e penteou os cabelos bem tingidos de marrom.

- Acaju.

Novamente desculpe Zeli. Acaju (eu e o meu Daltonismo!!). Pois bem, penteou seus cabelos, pintou cuidadosamente o rosto e colocou seu melhor vestido. Tudo para conquistar um 'pão' (digo gatinho).

O encontro foi inevitável!

Biro olhou para Zeli e deu uma piscadela. Ela não se fez de rogada e retribui com um lindo Sorriso Corega (digo Colgate). O conquistador, percebendo a oportunidade, aumentou o passo e seguiu a 'coroa'.

- Filho d...

Gatinha... gatinha... E ao alcançá-la perguntou se poderia caminhar ao seu lado...Zeli permitiu. Assim começou um belo papo que seguiu até as 11 da manhã. Percebendo suas obrigações, a 'gatinha' tentou colocar Biro na sua agenda...

- Quer ir comigo até a farmácia? - perguntou Zeli.

- Claro. Também preciso ir! - disse Biro.

Começou a partir de então, uma linda história de amor na terceira, ops... melhor idade, regada a muito carinho, caixinhas de comprimidos (azuis principalmente) e festas noturnas nos bailinhos da saudade...

- De que adianta viver sem gosto, mas vale ser eternamente jovem! (afirmam os dois até hoje)

(*) Desculpe pelo título, meu inglês realmente é péssimo... Ai, ai, mais uma 'bela história' sem nexo nenhum, sem fundamento algum, sem graça e sem sentido criada por essa mente insana e regada pela falta de tempo! A tentativa (ressaltando: tentativa) dessa crônica foi chamar a atenção para o fato de que nunca é tarde (a não ser quando se morre) para se viver a vida!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Dia de vendas (*)

Quem nunca foi vendedor pelo menos uma vez na vida jamais vai compreender qual o sentimento de um bom dia de vendas e nem qual a dor de um dia de prejuízo. Por isso, me dói o coração cada vez que vejo alguém que trabalha desta forma voltando para casa sem ganhar o que precisava.

O bom vendedor sofre diariamente, mas sempre em silêncio, pois não pode transparecer o que sente ao freguês. Deve trazer sempre um sorriso no rosto independente da mágoa, do medo ou mesmo desespero de um péssimo dia de vendas.

Envolver sentimentos pessoais no momento de uma venda? Jamais. Vender é algo tão intenso que por si só já envolve milhões de sentimentos e não dá espaço a nenhum outro. O vendedor se desliga do restante do mundo e passa a viver seu mundo próprio no instante do trabalho.

Aprender a conversar mentalmente consigo mesmo. Esta é uma habilidade que os vendedores autônomos conseguem desenvolver ao longo do trabalho. Devido a proximidade de si próprio e distância do restante do mundo, os vendedores acabam tendo uma grande intimidade com eles próprios (únicos confidentes do desespero ou alegria de um dia de vendas).

Nos braços três vasilhas, em cada uma nove empadas, em casa mais 16 salgados, uma certeza: na cabeça, tenho que vender todas.

De porta em porta coleciono negativas, o desespero aumenta, o tempo passa, o salgado não sai.

- Meu Deus e agora?
- Pra que o desespero? Eu vou conseguir!Respiro fundo e sigo em frente...
- Ei venha cá - me chama um senhor no bar.
- O senhor quer empadinha hoje? - pergunto.
- Tem de quê? - De frango - respondo, mesmo tendo certeza da resposta.
- Ah, queria de palmito - responde o infeliz, rindo e tirando sarro.

Nervoso com a situação de não vender bem no dia e com o sarro do pobre coitado que se aproveitou, olho nos olhos dele. Sorrio e agradeço, pouco antes de sair.

Cenas como essa são normais, infelizmente. Continuo e, já quase sem esperança, uma senhora me chama (já estava na minha segunda volta pelo bairro e não sabia para onde ir).

- É de frango, né?
- É.
- Tem quantas?
- Na vasilha tenho 27.- Quero todas.
- Mas leva se tiver mais na minha irmã que mora na esquina.

Saí sem disfarçar a alegria. Nos braços, vasilhas vazias. No rosto, o sorriso e, no peito, a tranqüilidade.

A irmã comprou todas as restantes. Quem diria? Consegui!Com o sabor do dever cumprido, regressei, mas fiz questão de passar com as vasilhas vazias em frente ao infeliz do bar...

(*) O vendedor é um trabalhador solitário que convive diariamente com a alegria do sucesso ou decepção da recusa. Um dia de vendas é um entrelaçar de sentimentos que envolve muito mais do que aparenta. Tenho orgulho de dizer fui um vendedor.

sábado, 11 de outubro de 2008

O Verdadeiro (*)

Se um dia algum cãodidato (digo candidato) assumisse a real intenção de sua campanha...as eleições teriam programas políticos como o descrito abaixo. Logicamente essa campanha não existiu... Afinal, quem é o "Verdadeiro" na política?

Meu nome é Verdadeiro, seu candidato a vereador!

Não vim aqui para te enganar, nem para falar mentiras. Vim apenas para conquistar o meu lugar ao Sol.

Tenho 35 anos e, cansado de tentar enriquecer de maneiras ineficientes, quero chegar ao Poder Legislativo para tomar o seu dinheiro amigo eleitário (digo eleitor).

Pretendo conquistar poder e, com isso, satisfazer todas as vontades (minhas, é claro).

No meu mandato não faltará emprego (para minha família),
Não faltará dinheiro (para mim),
Não faltará lazer (para meus filhos),
Não faltará saúde (para todos os citados anteriormente)!

Se acham que sou pretensioso em declarar isso tudo, saiba que ao menos sou verdadeiro:

Não minto para você,
não tento te enrolar
e não conto historinhas para chegar onde quero.Quero primeiro chegar, para depois fazer história (de preferência uma linda história de enriquecimento próprio)!

Eleitor (não amigo eleitor, afinal não te conheço e nem sou seu amigo), sou meu amigo e tenho como principal prioridade a minha eleição.Conto com seu voto, mas se quiser compro ele.

Nessa eleição não seja enrolado por aqueles que contam historinhas.
Vote naquele que afirma que só quer o seu dinheiro.
Meu nome é Verdadeiro: 00001 e chega de mentiras.

Deus ilumine a cabeça daqueles eleitos pelos sem-cabeça ...

(*) Caro leitor, tudo nesta vida tem um preço. Se ao menos as pessoas assumissem a real intenção ao se candidatarem a algo, saberíamos em quem votar. Se quiser acredite que alguém gaste mais de R$ 100 mil em campanha (e olha que tem gente que gasta muito mais que isso!) para ganhar no máximo R$ 6 mil ao mês.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Artistas (*)

Muitos são aqueles que prestigiam os artistas, mas poucos são aqueles que os entendem... Pelas ruas da cidade, existem pessoas que correm contra o esquecimento, contra o cruel tempo que corrompe, entre tantas outras coisas, a memória das pessoas que um dia os aplaudiram.

Pessoas para conviveram nas vitórias e nos momentos felizes são muitas. Porém, aquelas que oferecem ajuda em momentos difíceis são raras.

José Francisco, um artista que muito contribuiu para emoção de todos aqueles que escutaram suas músicas um dia, hoje luta contra o esquecimento, contra a triste sina de todos os artistas: de nunca serem reconhecidos em vida.

Como se andasse ao som de um tango argentino de Carlos Gardel sobre a tristeza de um povo, José continua a viver, não por gosto, não por esperança, mas por teimosia! "Vivi até hoje batalhas muito maiores do que a que vivo hoje, não vai ser isso que vai me abalar", afirma.

Sempre com seu violão em punho, canta as tristezas e alegrias da vida, não por raiva, não por nostalgia, mas por necessidade. "Preciso da música para viver, afinal, sem ela não existo".

Numa esquina qualquer, quando encontra alguém para conversar, toca seu violão e encanta todos aqueles que param para escutar sua poesia em forma de música. No ressoar das notas, relembra os nostálgicos, apaixona os casais, reaviva a alegria dos entristecidos e sorri por um instante contagiado pelo mar de sentimentos ao seu redor.

Não, não é fácil entender um artista

Não tente, apenas aprecie... Os artistas foram feitos para isso. Não tente decifrar a genialidade do gênio, pois geralmente você não descobrirá o que quer e, mesmo que descubra, a magia perderá a graça do inalcançável e se tornará banal.

José muito contribuiu para o mundo com sua música, mas o mundo não retribui com gratidão o que recebeu. Em troca dá o descaso e o título de desconhecido ao notável artista urbano que caminha pela noite sem rumo, não porque não tenha para onde ir, mas porque o desconhecido o encanta...

Durante toda a vida, os homens o chutaram sem dó e o deixaram no esquecimento. O tempo fez mais uma das suas maldades e contribuiu com sua fúria. O destino deu a José de presente a solidão por falta de quem o entenda. Restou-lhe somente a noite, pela qual vaga em busca de paz, em busca do desconhecido.

A caminhada continua...

Mas antes que o tempo se finde, antes que a noite o leve para sempre, vem no peito uma paixão...

Como quem se lembra de algo, José volta em direção a casa da qual saiu. Sedento de carinho, abre a porta e, após subir a escadaria, ele a encontra, com semblante feliz.

Esperando por ele todo este tempo com o rabo abanando está sua fiel companheira... uma cadelinha vira-latas. "Nunca vi amor mais sincero. Ela sempre me espera. Não pergunta para onde fui e me ama mesmo que demore".

Talvez em alguma esquina da vida você encontre José com seu violão na mão, pois por teimosia ele não desiste de mostrar ao mundo o dom que recebeu apesar da ingratidão.

Caso não encontre José, encontrará uma outra pessoa que traz no peito a dificuldade da sobrevivência diante do esquecimento.

José é só mais um brasileiro...
Onde está nossa memória?

(*) Não existe nada que doa mais no peito do artista do que a falta do reconhecimento... Quantos são aqueles que caminham esquecidos neste país?