Muitos são aqueles que prestigiam os artistas, mas poucos são aqueles que os entendem... Pelas ruas da cidade, existem pessoas que correm contra o esquecimento, contra o cruel tempo que corrompe, entre tantas outras coisas, a memória das pessoas que um dia os aplaudiram.
Pessoas para conviveram nas vitórias e nos momentos felizes são muitas. Porém, aquelas que oferecem ajuda em momentos difíceis são raras.
José Francisco, um artista que muito contribuiu para emoção de todos aqueles que escutaram suas músicas um dia, hoje luta contra o esquecimento, contra a triste sina de todos os artistas: de nunca serem reconhecidos em vida.
Como se andasse ao som de um tango argentino de Carlos Gardel sobre a tristeza de um povo, José continua a viver, não por gosto, não por esperança, mas por teimosia! "Vivi até hoje batalhas muito maiores do que a que vivo hoje, não vai ser isso que vai me abalar", afirma.
Sempre com seu violão em punho, canta as tristezas e alegrias da vida, não por raiva, não por nostalgia, mas por necessidade. "Preciso da música para viver, afinal, sem ela não existo".
Numa esquina qualquer, quando encontra alguém para conversar, toca seu violão e encanta todos aqueles que param para escutar sua poesia em forma de música. No ressoar das notas, relembra os nostálgicos, apaixona os casais, reaviva a alegria dos entristecidos e sorri por um instante contagiado pelo mar de sentimentos ao seu redor.
Não, não é fácil entender um artista
Não tente, apenas aprecie... Os artistas foram feitos para isso. Não tente decifrar a genialidade do gênio, pois geralmente você não descobrirá o que quer e, mesmo que descubra, a magia perderá a graça do inalcançável e se tornará banal.
José muito contribuiu para o mundo com sua música, mas o mundo não retribui com gratidão o que recebeu. Em troca dá o descaso e o título de desconhecido ao notável artista urbano que caminha pela noite sem rumo, não porque não tenha para onde ir, mas porque o desconhecido o encanta...
Durante toda a vida, os homens o chutaram sem dó e o deixaram no esquecimento. O tempo fez mais uma das suas maldades e contribuiu com sua fúria. O destino deu a José de presente a solidão por falta de quem o entenda. Restou-lhe somente a noite, pela qual vaga em busca de paz, em busca do desconhecido.
A caminhada continua...
Mas antes que o tempo se finde, antes que a noite o leve para sempre, vem no peito uma paixão...
Como quem se lembra de algo, José volta em direção a casa da qual saiu. Sedento de carinho, abre a porta e, após subir a escadaria, ele a encontra, com semblante feliz.
Esperando por ele todo este tempo com o rabo abanando está sua fiel companheira... uma cadelinha vira-latas. "Nunca vi amor mais sincero. Ela sempre me espera. Não pergunta para onde fui e me ama mesmo que demore".
Talvez em alguma esquina da vida você encontre José com seu violão na mão, pois por teimosia ele não desiste de mostrar ao mundo o dom que recebeu apesar da ingratidão.
Caso não encontre José, encontrará uma outra pessoa que traz no peito a dificuldade da sobrevivência diante do esquecimento.
José é só mais um brasileiro...
Onde está nossa memória?
(*) Não existe nada que doa mais no peito do artista do que a falta do reconhecimento... Quantos são aqueles que caminham esquecidos neste país?
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