Pouco antes de morrer Jorge percebe que é o momento de contar a verdade para esposa.
Já são 20 anos de casados e ele não aguentava mais guardar no peito tantas mentiras...
Foi informado um dia antes pelo médico que teria pouco mais de um mês de vida e resolveu ir em frente, livrando a consciência antes da morte.
- Querida tenho uma confissão a lhe fazer antes de morrer.
Rita se assustou mas era um caminho sem volta e incentivou o marido.
- Pode dizer Jorge nada será pior que lhe perder.
- Pois bem mulher, tenho que lhe dizer...
A mulher trêmula se corroía de ansiedade antes de Jorge concluir, o que seria tão grande para durar 20 anos? Seria outra família? Traição?
- Fale homem - disse Rita visivelmente transtornada.
- Certo Rita... vou ser obrigado a falar... seu feijão é horrível.
- O que? - disse ela num misto de susto e raiva.
- Sim, seu feijão é sem dúvida o pior que já comi, imagine meu sofrimento em guardar ano após ano este segredo. Além de ter sido devotado e fiel a ponto de comer esta massaroca insossa e pastosa por todo este tempo sem ao menos reclamar.
A mulher pasma com a revelação não soube o que dizer, ficou imóvel e calada.
- Não sei porque tolerava isso. Sofri calado e tive que buscar satisfação fora de casa. Sabe as marmitas que me fazia para o almoço? Todas sempre foram para o lixo. Mas o pior era o trabalho de remover os resíduos do terrível feijão da marmita.
- Mas como buscar satisfação fora? - indagou a já nervosa esposa.
- Comia no boteco do Jonas. Sim, eu comia lá todos os dias... como queria que seu feijão fosse igual o do Juremar, o cozinheiro do boteco. Mas não, seu feijão é horrível... Cansei de viver em meio a estas mentiras.
A mulher não sabia o que dizer nem o que fazer...
Jorge só pensava em uma coisa: no feijão do boteco, em como seria triste morrer e nunca mais comer aquele feijão.
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