domingo, 30 de junho de 2013

Proezas esportivas parte I

Bem, eu nunca fui o que pode ser chamado de atleta nato, mas como deveria ser, sempre desafiei minha própria natureza, conquistando assim proezas esportivas da melhor qualidade.
Talvez as maiores proezas foram reservadas para o futebol, meu esporte favorito, que eu amo intensamente, mas é quase um amor platônico, pois amo o futebol na mesma medida que ele parece não ir muito com a minha cara...
Um dos episódios inesquecíveis foi a minha estreia como jogador juvenil na várzea de São Vicente. Aos onze anos estreiava no sub-12 da Sociedade Esportiva Rio Bonito da Cidade Náutica... Ou apenas Rio Bonito como era carinhosamente chamado.
Minha carreira como jogador na várzea (resumida a 12 jogos, que culminaram com minha aposentadoria aos 12 anos) teve um início épico. Para meu desespero, minha avó e meus pais seriam testemunhas da tragédia quase certa que cercaria aquela partida.
Tudo caminhava bem nos minutos anteriores, uniforme perfeitamente arrumado, chuteira devidamente amaciada, camisa 17 (meu número da sorte). Todo o clima da partida tomando conta de mim. Seu Sílvio meu primeiro (e último) técnico sentindo-se pressionado pela presença da minha torcida particular resolveu promover minha estreia já como titular.
Seria um amistoso entre Rio Bonito e PSV. Grande jogo, clássico das categorias de base de São Vicente. Estava começando a ficar confiante, meu cabelo cumprido molhado e para trás, a estatura e a posição de centro avante me davam o aspecto dos verdadeiros matadores italianos (bem apenas o aspecto, o que se viu na prática...).
Me reuni com os demais jogadores, rezamos o Pai Nosso. Fizemos a famosa corrente, antes de gritarmos "Rio Bonito!" todos juntos, num único coro...
Olhei para toda a torcida, seis pessoas, somando os meus três parentes... Metade gritava meu nome. Seria a glória de uma grande estreia... Comecei a me contagiar, me sentia confiante. Ao pisar no gramato (uma mistura de terrão com mato) peguei um tufo amarelado da "grama" e fiz o sinal da cruz antes de entrar em campo me aquecendo.
Quem olhava pensava "este é craque". Incrível como estes julgamentos mudam rapidamente.
Juiz apita, começa o jogo. Bola pra direita, eu para esquerda, bola para a esquerda, eu para a direita. E nos primeiros 15 minutos, consegui me manter longe da bola.
Até que, numa jogada genial o camisa dez do time dribla cinco adversários e rola para trás, aquela bola que nada mais é do que a redenção de um grande atleta, aquele lance que pode coroar um grande artilheiro.
Pois bem, livre da marcação de qualquer zagueiro, não pude escapar da marcação mais cruel, a da natureza, num lance que poucos conseguiriam repetir, chutei meu tornozelo esquerdo com o peito do pé direito, fazendo uma autofalta violentíssima. Resultado... perdi um gol que parecia imperdível.
Agora estava lesionado e jogaria no sacrifício, mas por pressão da torcida, incluindo meus pais... fui substituído.
Mas um artilheiro sempre brilha. No meu 9º jogo marquei meu primeiro gol, num raro toque de bola esquerda... Isso mesmo... Mas isso é outra história...

sábado, 1 de junho de 2013

Janela

Charles olhou para a janela, queria ver se tinha algo de diferente acontecendo para fora de casa.
Dentro da casa dele tudo igual, nada de novo...
Um pouco de medo, um pouco de dor, mas nada de novo.
Olhou para fora e viu um carro passar,
viu um bêbado tropeçar,
um vagabundo arrotar.
Olhou para dentro e não viu nada de novo...
nenhuma novidade,
olhou para fora e viu um casal se beijar,
uma criança aprendendo a andar,
um loro a falar...
Nada de novo, nada de novo,
mas lá fora...
um rato a correr,
um cachorro a comer,
um pecador a se arrepender.
Mas dentro, nada de novo, apenas aquela sensação de que nada irá acontecer
Mas na janela, um mundo inteiro a girar,
milhões de carros a passar
pessoas a pensar,
vidas a viver...
Charles então fechou a janela,
fechou a cortina,
apagou as luzes
e foi dormir
quem sabe sonhando algo de novo acontece?
A janela só se abre quando estamos sentindo e não pensando.
Quando estamos vivendo e não reclamando,
ou quando simplesmente estamos sonhando...