quarta-feira, 21 de maio de 2014

Despedidas...

E com os olhos verdes rajados de azul. Tocou com as mãos enrugadas nas minhas e disse. "Todo mundo vai um dia está chegando minha hora, fica tranquilo. Seu avô está lindo ao seu lado".

Como num passe de magia o Alzhaimer deu lugar a razão. Já não sabia se eu ou ela delirávamos. Apenas sei o que meu coração sentiu.

A vida é feita de momentos marcantes de encontros e despedidas. Muitas vezes despedidas dolorosas que jamais esquecemos.

Muitas vezes trata-se de algo surreal. Como por exemplo um homem declarado morto que volta por seis meses para se despedir de todos e fazer coisas importantes que não tinha feito antes. Coisa de filme né? Eu já vi.

A única certeza é que a vida é longa o suficiente para vivermos muitos encontros e despedidas, mas curta e cruel ao nos tirar as pessoas que amamos.

A cada dia vejo que mais importante é sempre o dia de hoje e aproveitar ao máximo a oportunidade de conhecer pessoas. De conhecer o mundo e de nos conhecermos.

Longe de mim a pretensão de querer ensinar alguém. Mas apenas pensei muito nos últimos dias sobre isso e gostaria de compartilhar: sendo o mundo um lugar de oportunidades e a vida uma oportunidade única para existência, por que reprimimos tanto nossos sentimentos e atitudes diante do mundo?

Afinal nunca sabemos quando será nossa despedida, mas temos a oportunidade de a cada novo dia nos conhecermos mais e conhecer novas pessoas,  novos olhares e pensamentos.

Muitas vezes sinto vontade de apenas viajar pelo mundo e descobrir além de lugares lindos novos mundos, afinal cada um de nós é único e um mundo a parte. Com toda a complexidade e engenharia celestial.

E a cada dia me surpreendo ao conhecer um mundo novo: "Meu amigo o maior problema do ser humano é o medo. Quando ele domina você, acaba fazendo com que perca todos os outros sentimentos,  inclusive o amor por si", palavras de sabedoria, que ouvi de um morador de rua, viciado em crack que conheci na fria noite de São Paulo.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Cama elástica

O menino sorria e pulava na cama elástica
O sorriso surgia a cada novo salto
A tristeza ficava para trás
A pobreza ficava para trás
A fome ficava para trás
As balas que ele vendia ficaram de lado
E ele chamou o irmão
E a cada novo pulo o sorriso se desenhava
Como um grito de felicidade por ser criança
A cada novo pulo a esperança de viver se renovava
E os braços ao ar se jogavam
Levados pelo vento da esperança
Em meio a selvageria da vida
Em meio a fome e desesperança
Ainda é possível
Ser apenas uma criança
Mesmo que por apenas alguns segundos
Mesmo que apenas esta noite
O sorriso deu lugar ao medo

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Caminho de casa

Seis horas da tarde em Santos. Algum dia de 1992... Era verão. E como de costume na cidade litorânea o calor persistia mesmo depois do sol ir embora.
Não se trata de um calor qualquer. Trata-se daquele vento úmido e quente que gruda no corpo. Tipico dia de calor santista.
Uma linda mulher de caracóis nos cabelos, magrela e com pouco mais de 20 anos carregava no colo um moleque pentelho de cachos claros e cabelos cumpridos com pouco mais de três anos.
Ele falava o tempo todo... parecia um papagaio rouco com aquela voz de criança pequena.
Hora de subir no ônibus lotado e partir para a Areia Branca, bairro da Zona Noroeste de Santos, cerca de uma hora de viagem.
Dentro do ônibus cheio, a mulher quase cai com criança e tudo.
Não adianta, o moleque quer o colo da mãe. Diante de tanta gente, tem medo de ser esquecido no ônibus.
Entre vários homens sentados nenhum levanta. O ato de cavalheirismo acaba partindo de uma mulher. Uma senhora que já deve ter passado pela mesma situação.
Agora, finalmente a mãe poderá descansar as pernas depois de um dia inteiro de trabalho. E o pequeno pentelho agora resolve cantar...
Finalmente eles chegam na Zona Noroeste. O menino começa a olhar para o pasteleiro... E sem saber se a mãe tem dinheiro ou não pede: "mãe me dá um pastel".
A mãe tem pouco dinheiro. Sabe que na verdade não poderia gastar com "besteiras", mas para. Pede o pastel e uma Coca Cola.
Não pede para ela. Apenas para o menino. E espera ele comer.
Hora de continuar o caminho de casa. Menino no colo e mais uma longa caminhada.
É... acho que desde sempre dei trabalho para minha mãe. Aquela mãe magrela de menos de vinte anos com caracóis nos cabelos e rostinho de menina.
A mãe que foi minha primeira chefe no comércio de empadas.
E principalmente o sorriso mais lindo e abraço mais gostoso que conheço!
Obrigado mãe por me aguentar mesmo sendo pentelho desde sempre. Por cada pastel que me deu. Pelo colo no caminho. E por nunca ter me esquecido no busão!
Para todas as mães do mundo. Feliz dia das mães!