Dezoito filhos, começa a loucura. Como buscar o alimento de todos eles?
"Hora de ir para a selva e correr o risco de morrer em meio a imensidão de monstros".
Ela caminha sem direção sendo levada pelo extinto. Sente apenas o aroma da refeição e seguindo os sentimentos mais vorazes vai atrás da sobrevivência.
Sai da pequena casa úmida e jogada ao relento. Escura, sofrida.
Escala montanhas e desvia de animais que adorariam devorá-la, por mais nojenta que possa parecer para nós.
Os obstáculos são tamanhos e tantos, mas as dezoito pequenas bocas sedentas por comida não a deixam desistir facilmente.
Desvia de grandes monstros que emanam vento, passa correndo por portais gigantes que quase a mataram. Ela continua. Não vai parar depois de ir tão longe.
Enxerga a sua frente uma pequena sacola aberta... Os restos de comida estão evidentes. É tudo o que ela precisa para alimentar toda a família, pensa em chamar os filhos, mas antes precisa ter a certeza de que o dono, que deixou aquela comida jogada, não vai voltar para protestar a posse.
Sofia olha para ela. Sente um asco que começa na coluna e se espalha até os braços. Os pelos arrepiam na medida que seu nojo aumenta.
Saca um chinelo, olha para aquela barata nojenta e resolve atacar. "Hora de acabar com este animal nojento".
A cada nova chinelada um grito, a barata desnorteada e com um pouco de comida na boca, corre, para tentar se salvar.
Mais uma chinelada, desta vez certeira. A barata sente o baque. Fica de costas, sofrendo. Enquanto aguarda o golpe de misericórdia pensa nos filhos.
Mais uma chinelada. Sofia atordoada chama pelo marido. Ele vem, para levar o animal embora e joga-lo privada abaixo.
Dezoito filhos órfãos vagam agora pela mesma selva, em busca da mesma comida desperdiçada, com a certeza de que serão esmagados pelo simples nojo daqueles que desperdiçam a comida e são a razão deles existirem.
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