quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Passa

No simples toque do tempo
Vivência se torna saudade
Saudade traz a lembrança
Lembrança nos faz viver novamente
Um simples toque no tempo
Torna o novo velho
O presente em passado
O indestrutível em pedaços
Toque sutil do tempo
Quase imperceptível
surpreendente a inapelável ação
Nada é para sempre
Nada é impossível
Nada é indestrutível
E neste doido passar dos ponteiros
Onde os dias se sobrepõem
As memórias se acumulam
E se perdem
A vida renasce a cada novo sorriso
Revigora a cada nova esperança
Esperando pequenos momentos
Em busca de lembranças eternas
Pois se você não sente saudades,
de nada ou de ninguém
Significa que ainda não viveu verdadeiramente.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Só o amor

Imundas mãos dos que julgam
Imundas vidas dos que governam
Imundas ações dos que deviam proteger
Imundas noções do que se deveria fazer
Imundice sem igual
E ainda julgam o animal
Botam a culpa no bestial
Não se tocam que a imundice é humana
E essa maldade profana
Necessita de amor
Quero alvos sorrisos
Beijos e abraços
Ao mundo o amor
E se os imundos mundanos
Os ditos humanos
Quiserem me deter
Lhes ofereço meu sorriso
Lhes ofereço meu desprezo
E os mato com meu amor
Pois não há nada mais provocativo
Que um sorrido furtivo
De um coração tranquilo
Em meio a tentativa de pavor
Sorria, viva sorrindo
O que nos resta
É só o amor

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Corações secos

Carlos desceu da moto com as botas sujas da areia seca do sertão.
Queria ver de perto aquilo que o cercava. Moto parada no descanso, no canto do acostamento.
Ao redor o som sombrio do vazio causado pela fome. Na frente dele barracas... muitas barracas. Eram como tendas de um coro tão seco que estava prestes a rasgar.
Em cada barraca uma pessoa estendia as mãos em busca de uma moeda. Em busca de uma migalha.
O rosto daquela mulher impressionava. Era o rosto de sofrimento, de dor.
A fome não é uma realidade distante. A miséria é um mal muito próximo.
Numa barraca mais a frente três crianças. Todas com o semblante da falta de esperança.
A moto balança devido ao vento causado pelo caminhão que acabou de passar. O vento é seco, como o dia, como o futuro daquelas pessoas.
Na beira da estrada, um exército de pedintes. Um grupo de pessoas clamando por ajuda.
A estrada continua. Mas Carlos levará consigo na memória um pouco do chão seco daquela terra.
Sobe na moto e olha o painel. Pouca gasolina. Muito a percorrer. Deixa a bolacha e a garrafa de água que guardava na mochila e parte.
Caminhões param e deixam comida, água, dinheiro...
Mais a frente uma fazenda, o gado magro é o anúncio da morte proxima. O sertanejo senta diante do sol, próximo a cerca. Contempla a miséria que lhe espera.
De repente o inesperado. Carlos se assusta.
As gotas começam a cair. O chão recebe cada gota como o fruto da esperança. Carlos para a moto novamente. Olha pra trás e contempla a gritaria, criancas antes amoadas, pulam e sorriem...
Sorriso puro e inocente, lágrimas do céu que se transformam em pranto... cai mais chuva... o sertanejo se levanta. Olha pra cima parece ainda não acreditar.
Carlos fecha a viseira, ajeita a jaqueta e com as gotas de alegria batendo contra o corpo. Segue a estrada esburacada com um sorriso no rosto e mais paz no coração.