O conquistador do Busão

Em um ônibus qualquer...

 - Oi bom dia! Qual o seu nome? - (diz o homem, de aproximadamente 40 anos, ao se sentar ao lado de uma mulher nitidamente fora do peso com cerca de 25 anos).

- Juclécia. (responde a mulher, sem esconder a satisfação de alguém ter puxado assunto).
- Meu nome é Robervaldo, você é solteira? (Emenda ele sem pudor algum deixando a menina sem graça).
- Sou. (responde ela tímida)

Começa então o espetáculo da conquista num ônibus circular, num dia de chuva, com lotação quase completa...

Seguem os personagens e as condições:

Robervaldo, 40 anos, cientista da computação, divorciado, barba rala (mal-feita), boca torta (ele pensa que é charmoso), trajando uma calça jeans, sandália (do estilo "São Francisco"), camisa social (com mangas dobradas), lema: "Com minha inteligência conquisto qualquer mulher..."

Juclécia, 25 anos, atendente de lojinha, solteira (por opção... dos homens), rosto manchado... (resultado provável de caipirinhas na praia, sem limpar "os beiços"), trajando um shorts curto (três números abaixo do dela, pelo menos), camisa com o logo da loja, tênis NAIQUE (isso mesmo, igualzinho um original), lema: "Eu quero alguém para dormir de conchinha e me chamar de meu amor..."

Chances disso dar certo: 99%, é só o cara não fazer besteira que tudo dá certo... Pois bem, a conversa continua:

- Como pode você ser solteira? Uma mulher tão linda!

- Eh...
- Então, sabe, eu sou cientista da computação. Trabalho fazendo modificações em hardwares! Sou muito bom no que faço...
- Nossa isso deve ser difícil. Sempre achei inteligente quem é capaz de desmontar o computador e descobrir exatamente onde cada peça deve ficar!
- Não... Não é tão difícil, quando ficamos bons no que fazemos isso se torna fácil como montar lego!
- Ah...
- Sabe, na computação tudo se traduz em linguagem binária, ou seja para você apertar o "A" do seu teclado, por exemplo, o seu processador lê "000011000011111000011110000111", entendeu? Binário quer dizer dois números, ou seja 0 ou 1!
- Entendi...
- Ah, mas vamos parar de falar sobre informática e trabalho! Você gosta de poesias?
- Gosto... (disse Juclécia com a esperança de que voltariam para o papo que resultaria numa cantada!)
- Eu adoro os parnasianos! Você sabe o que é uma poesia parnasiana?
- Pois bem... (e lá foi ele explicar o que era um poeta parnasiano)

Não contente ele emenda:

- Tem uma poesia desse estilo linda. Vou recitar para você!

- Não precisa, depois você me conta...
- Não, esta eu sei de cor, veja só se gosta... (E ele recita toda a poesia)

Quem estava no ônibus já via a pobre Juclécia, começar a se coçar para levantar do banco, mas se sentindo sem graça para abandonar o chato que ela há poucos minutos imaginou, seria um bom partido. De repente um silêncio se instala entre os dois... parecia que ele tinha percebido o quanto estava sendo chato, foi quando ele perguntou:

- Você torce para qual time?

- Eu sou corintiana.
- Parabéns pelo título, mas seu time é horrível!
- Eu não ligo para futebol.
- Tudo bem, mas você sabe de onde veio o nome do seu time?
- Eu não gosto de futebol.
- Vou te explicar...
- Eu não gosto de futebol!!!
- Ok, deixa pra lá...

Novamente o silêncio... Até que Robervaldo puxa, outro assunto:

- Eu não gosto de baladas, sou muito mais os barzinhos! Como gosto de música ao vivo, mas principalmente de música mineira, gosta do Oswaldo Montenegro? Eu adoro!!
- Eu não conheço muito bem.
- É aquele homem que foi casado com aquela menina lindinha... a Paloma Duarte! Agora sabe quem é?
- Não.
- Eu adoro as músicas dele (e por incrível que pareça ele começa a cantarolar)

Juclécia resignada, puxa a corda do ônibus e mesmo em meio a tempestade desce dois pontos antes do trabalho. Robervaldo fica sozinho no ônibus... Olha para o lado e vê num banco próximo uma senhora de pelo menos 70 anos. Senta ao lado dela...

- Bom dia, qual o nome desta mulher tão linda?

Mojica e Celsinho Feijoada

Fiquei muito impressionado ao conhecer a história do José Pepe Mojica, um ex-militante comunista Uruguaio, vítima da ditadura militar do país nos anos oitenta. Ele é hoje presidente do Uruguai e por incrível que pareça não foi corrompido pelo cargo (algo muito comum não só na nossa América Latina , mas em quase todo o mundo).

Mojica abriu mão do palácio da presidência em Montevidéu, ao contrário vive numa humilde chácara no interior do país, também abriu mão de todas as regalias do governo e doa 90% do salário para instituições filantrópicas do país.

Vive numa casinha simples, na companhia de uma cadelinha (que possui três patas apenas). Ao invés de se exibir com possantes máquinas tem como veículo um velho trator, que usa para trabalhar na terra.

Ao contrário do que você pode pensar meu caro amigo brasileiro e completamente descrente (como eu, diga-se de passagem) com os políticos que conhecemos, Mojica faz um governo que conta com grande aprovação popular além de elogios externos pelo modo como vem comandando uma pequena nação em meio a crise internacional.

Fiquei imaginando ao conhecer a história que relatei acima como seria o encontro do grande Mojica com um membro da nossa “boa e velha política”! Abaixo segue o diálogo (traduzi simultaneamente o que o Mojica disse, afinal na minha imaginação ele fala português, bom lembrar antes que comecem a cornetar), o político que dialoga com Mojica é o Deputado (imaginário) Celsinho Feijoada, lembrando, qualquer coincidência é mera semelhança:

- Meu caro amigo Mojica! Você não deve me conhecer, sou Celsinho Feijoada, Deputado Federal por São Paulo, no nosso tão amado Brasil!

- Muito prazer Celsinho, como andam as coisas pelo Brasil?

- Ah, muito bem meu amigo, mas não tão bem como você... Andam falando muito de ti nas reuniões do Mercosul e nos encontros internacionais... Li muito sobre você, as pessoas te adoram...

- Obrigado Celsinho, fico feliz.

- Achei genial essa sua ideia de doar parte do seu salário e de abrir mão do palácio oficial... o povo ama isso! Jogada de marketing genial...

- Mas não se trata de jogada de marketing meu amigo, sou um filho da militância comunista, penso que isso é o mais honesto com meu povo!

- Eu sei, eu sei... Mas estamos entre amigos, não precisa ficar envergonhado, qual é a jogada? Para onde vai a grana que desvia? Ilhas Cayman? Suíça? Bahamas? Ah já sei, você criou um fundo de investimento fantasma? Isso é genial, genial...

- Não me ofenda, companheiro, sou honesto...

- Todos somos, todos somos... Mas caro colega esqueça o teatro comigo... A cadelinha foi uma ideia espetacular! Jamais teria pensado igual... O povo te ama e não é a toa, você é um gênio...

- Companheiro, me desculpe, mas não tenho mais o que conversar com você, além do mais estou atrasado para o encontro...

Com a cara amarrada Mojica deixa Feijoada falando sozinho e parte para o encontro presidencial no Palácio do Planalto...

O deputado Arnaldão da Tapioca vê a cena e vai questionar Feijoada:

- O que aconteceu? Quem era ele?

- Presidente do Uruguai... O camarada pensa que me engana... não passa de um demagogo, governar sem tirar nenhuma vantagem... O povo dele ele pode até enganar, mas nós não!

ROCHA O DESALMADO

A Sociedade Brasileira de Valorização a Vida trata-se de uma empresa que visa ajudar pessoas em momentos difíceis. Eles abrem um canal telefônico para o diálogo com estas pessoas que precisam de ajuda vinda de amigos desconhecidos, podendo evitar maiores estragos como suicídios e coisas do gênero.

Rocha é um destes funcionários, no entanto a paciência não é sua maior virtude...

- Boa noite SBVV, meu nome é Rocha no que posso ajudar?

- Boa noite!!!!
- Pô meu velho com essa alegria toda você está ligando por quê? É trote?

- Não!! É que estou feliz de ter com quem conversar...

- Putz... meu, você quer conversar liga pro chat amizade, aqui é se estiver com problemas...

- Mas eu estou com problemas!

- Eu também, não aguento mais tanta enrolação, fala logo o que você quer...

- Então amigo...

- Eu não sou seu amigo, este lance é profissional saca. Sou tipo um garoto de programa, mas que ao invés de sexo sou obrigado a ouvir as merdas que as pessoas falam e tentar falar besteiras para deixá-las menos triste.

- Cara você tem problemas hein?

- É, com certeza, sou eu que sou um bosta suicida e tô ligando para encher o saco dos outros...

- Pera aí, não sou um bosta...

- Então por que tá enchendo o saco?

- Estou em depressão!

- Ou seja, um bosta.

- Tudo bem, sendo assim acho que devo mesmo me matar...

- Cara, se tu quisesse mesmo se matar teria ligado pra cá para encher o meu saco ao invés de ter acabado com esta merda de vida infeliz?

- É você está certo, vou me matar!

- Tudo bem, mas antes continue na linha, por favor, e responda nossa pesquisa de satisfação do cliente. Boa noite e boa morte!