Saudades do cheiro da chuva.
Quando notava a água cair lentamente em pingos longos no muro com limo da casa da minha Bisavó.
As formigas em fila indiana carregando folhas fugiam em louca e desordenada debandada. Folhas caiam do muro, ou eram arrastadas pela água muro abaixo junto com as pequenas formigas que não largavam as folhas.
Isso, aquelas pequenas formiguinhas que se agarravam as folhas eram mortas com a força crueu de um chovisco de verão santista.
O cheiro de chuva aumentava, aos poucos o vento soprava fazendo o sol ficar mais brando naquele dia de verão.
Ouvia a bisa ao fundo gritar para minha avó: "Cida a chuva, tira as roupas do varal".
Eu continuava lá, agachado vendo as formigas. Algumas nadavam e conseguiam sair das enormes gotas, outras eram carregadas.
A união tão decantada destes animais acabava em meio ao caos. Era cada formiga por si.
O cheiro de chuva aumentava e vejo pela janela aquela cabeça cobertura de cabelos brancos, olhos nevados pela catarata, um aspecto de cansaço e glória de quem muito viveu e muito tinha para contar.
"Ivan o que você está fazendo?"
"Vendo as formigas bisa" respondi assustado.
"Então entra antes que o homem do saco te pegue".
Mais rápido e assustado que as formigas corri para dentro de casa. Minha bisa pegou um pote com torradas e comi com ela tomando café com leite.
Muito melhor que ficar preso num saco, como uma formiga na gota.
Espaço livre para um jornalista em plena ebulição de pensamento escrever o que bem entende!
domingo, 20 de outubro de 2013
O cheiro da chuva
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Proezas esportivas II
Certa vez na Escola Municipal Duque de Caxias, em São Vicente, a professora de educação física Frida, formada na escola nazista de pedagogia Adolf Feliz, resolveu fazer uma doce competição de corrida, onde seriam eleitos pela ordem: o maior esportista e o mais inútil para o esporte de toda a classe.
Sim, nossa amável Frida usava delicados termos para tratar com os alunos de 11 e 12 anos.
Consciente de minha incrível aptidão atlética, comecei a pensar no que fazer depois desta maravilhosa competição.
Na aula anterior a professora explicou as regras, seriam três voltas completas na pista de atletismo do Quartel do Exército de São Vicente, meninos e meninas competiriam juntos. Seriam premiados com medalhas os cinco melhores de cada categoria, o último de cada uma delas seria eleito o pior esportista da classe, um incentivo para o crescimento pessoal, segundo ela.
Eis que chega o dia da competição. Eu estava devidamente paramentado, com o shorts de estrelas do Santos, camiseta branca e tênis all star (que para meu desespero escorregava naquela b... de pista).
Me posicionei entre os primeiros na largada, a amavel professora apita e começa o desespero, digo, corrida.
Os 20 primeiros metros foram de euforia. Pois estava em quinto... estava.
Eram 40 competidores, sendo 18 meninos e 22 meninas, ao término da primeira volta já aparecia na honrosa 25º posição.
O destaque foi a ultrapassagem da menina manca e gorda. Ela devia estar possuida, pois me ultrapassou e ainda fez vento.
A segunda volta foi uma tortura, o pelotão da frente (os 30 primeiros) me deram uma volta.
Consegui recuperar a posição da gordinha. Era agora 31º.
Foi então, que percebi, evitar a ultrapassagem da gordinha manca era questão de honra.
Esse virou meu objetivo e corri tudo que podia, alguns outros me passaram? Sim, mas a gordinha manca não.
Faltando cem metros o desespero começa a aumentar. A gordinha de maneira sádica olha em meus olhos e sorri para mostrar que ainda tem fôlego para um sprint final.
Não fiz por menos, corri meu máximo também. Na linha de chegada tomei um jogo de corpo da gordalhuda e perdi a posição...
Ainda hoje desconfio que aquela menina estava dopada. Mas tudo bem encerrei a corrida em 36º. E assim a delicada Frida me premiou com meu primeiro título esportivo, de pior atleta da classe.
Mas as proezas esportivas não terminam por aqui, bem isso fica para outras histórias...