sábado, 20 de setembro de 2008

Heróis(*)

Sempre fico indignado com a situação da sociedade, com a falta de amor, com a falta de esperança, mas aos poucos a humanidade prova que na mesma intensidade que produz seres odiosos, indignos do ar que respiram, produz também seres à frente do seu tempo, verdadeiros heróis.

Pude, com a ajuda de amigos que cobriram o caso, conhecer de perto a história do surfista Tony Andreo Villela, que perdeu a própria vida após salvar duas pessoas que se afogavam em meio ao mar revolto do Guarujá.

Os heróis são aqueles capazes de ir onde ninguém tem coragem, de lutar além de suas forças simplesmente para fazer o que julgam correto.
Sim, os heróis dão a própria vida se preciso para realizarem o que almejam.

Villela entrou no mar, em um momento que os próprios salva-vidas julgaram "imprudente", em um mar completamente descontrolado, próximo às pedras, onde era exalada a força da natureza por meio do que os gregos chamariam de ódio de Poseidon.
Mas o que é imprudente para um herói, quando se trata de salvar uma vida?

O surfista de 32 anos que, em 2000, trabalhou como salva-vidas temporário, desafiou o próprio medo e entrou no mar com uma prancha sem parafina e sem cordinha de proteção, para tentar salvar quatro surfistas paulistanos que mesmo contra a advertência dos locais insistiram em entrar no mar.

Dois desses surfistas conseguiram sair sozinhos do perigo, outros dois foram carregados por Villela até um local seguro e também conseguiram sobreviver...

O preço

Ao contrário do que muitos possam imaginar, os heróis não são imortais. Eles pagam o preço de suas bravuras, muitas vezes com a própria vida. Ao tentar voltar à praia, o surfista foi engolido por uma onda que o afogou.

As ondas que sempre foram dominadas pelo amante do mar, quando surfava entusiasmado na praia em que nasceu, foram as responsáveis por tomar a sua vida após o ato de bravura.

Valeu?

Villela era pai de uma filha de 12 anos, não conhecia nenhum dos quatro surfistas que tentou ajudar e sempre foi um apaixonado pela praia onde desde a infância surfou. Existem momentos em nossas vidas que apenas uma escolha pode mudar todo o restante da trajetória.

Já vi casos de pessoas honradas que viveram a vida inteira sem ter feito algo realmente marcante, do qual pudessem se orgulhar e servir de exemplo aos outros.

Talvez para essas pessoas, oportunidades como essa tenham aparecido, mas simplesmente pensaram com a prudência e não com o coração como fazem os heróis.

Villela morreu e, com toda certeza, sua família está entristecida com esse fato, mas ao mesmo tempo se orgulha de ter criado um verdadeiro herói. O surfista teve na sua frente uma oportunidade única de fazer o que a razão lhe aconselhava ou, simplesmente, fazer o que seu coração de herói mandava.

Ah, sem dúvida como pudemos observar nosso amigo (tomo essa liberdade devido a admiração que criei por ele) provou que realmente é um herói que está acima de todos nós, pois abriu mão da própria vida para fazer o que julgava certo.

Quantos de nós faríamos o mesmo?
Quantos pensaríamos com o coração?
Só o tempo poderá dizer...

Mas a nós simples mortais resta-nos exaltarmos a ação de Villela e contarmos sua história a todos que conhecemos, para que ela se torne eterna.

(*) Dedico esta crônica a todos os heróis de nossa sociedade.
Todos aqueles que ao menos uma vez na vida pensaram com o coração!

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