sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Carcará

O sol é uma constante arranhando o céu e o chão rachado pelo calor e secura deste lugar.

Calangos correm apressados tentando se esconder entre as pedras, evitando virar comida do carcará, pássaro astuto e rápido, como deve ser quem vive no semi-árido nordestino.

A sede e o cansaço já fazem parte do meu dia neste trecho de estrada. Caminhos se repetem em momentos e locais diferentes.

Numa casinha, pequena e rosada está dona Eulália. A porta aberta, a TV alta, o cheiro de alfazema.

Velhinha cheirosa, com o terço na mão reza o Rosário de Nossa Senhora. Para, me olha e diz:

- Entra filho, sente do lado da Velha.

Puxo a cadeira e assisto ela terminar o ritual. A TV fica ainda mais alta ao entrar o comercial. Dona Eulália desliga o aparelho.

- Tá com fome filho? A velha tem bolacha e suco de caju.

Aceito o suco. Aquele perfume me faz lembrar outra velhinha. Termino e agradeço. Ainda tem muita caminhada pela frente.

Dona Eulália me diz para tomar cuidado e para aprender a ser como um carcará:

- O carcará voa livre, vê tudo de cima. Nunca vi errar um ataque. Mas só faz isso porque tem paciência de esperar a hora certa. Ouve essa velha...

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