O sol é uma constante arranhando o céu e o chão rachado pelo calor e secura deste lugar.
Calangos correm apressados tentando se esconder entre as pedras, evitando virar comida do carcará, pássaro astuto e rápido, como deve ser quem vive no semi-árido nordestino.
A sede e o cansaço já fazem parte do meu dia neste trecho de estrada. Caminhos se repetem em momentos e locais diferentes.
Numa casinha, pequena e rosada está dona Eulália. A porta aberta, a TV alta, o cheiro de alfazema.
Velhinha cheirosa, com o terço na mão reza o Rosário de Nossa Senhora. Para, me olha e diz:
- Entra filho, sente do lado da Velha.
Puxo a cadeira e assisto ela terminar o ritual. A TV fica ainda mais alta ao entrar o comercial. Dona Eulália desliga o aparelho.
- Tá com fome filho? A velha tem bolacha e suco de caju.
Aceito o suco. Aquele perfume me faz lembrar outra velhinha. Termino e agradeço. Ainda tem muita caminhada pela frente.
Dona Eulália me diz para tomar cuidado e para aprender a ser como um carcará:
- O carcará voa livre, vê tudo de cima. Nunca vi errar um ataque. Mas só faz isso porque tem paciência de esperar a hora certa. Ouve essa velha...