quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Quem diria... (*)

Rafael acorda mais um dia no apartamento de cerca de R$1 milhão, toma um banho de banheira aquecida, dá um beijo na esposa e no filhinho. Após um café demorado na sala de jantar, segue o caminho do elevador até o estacionamento.

Rufino acorda mais um dia no barraco onde mora, olha com tristeza para o quarto alagado na última ressaca. Toma um banho rápido do chuveiro aquecido com um gato. Beija a mulher e os cinco filhos. Engole rapidamente o pão amanhecido e corre entre as palafitas para chegar até o terminal de catraias.

Rafael pega o Audi na garagem e dirige tranqüilamente até o escritório onde trabalha no centro de Santos.

Rufino desce apressado da catraia e suspira de alívio ao perceber que não está atrasado. Na sua mochila traz a marmita e cinco reis (única verba do nosso amigo). Corre para o ponto de ônibus.

Rafael entra no prédio de comércio exterior que trabalha, sobe de elevador até a sala (presidência) e se joga na cadeira antes de ligar o ar condicionado com o controle remoto.

Rufino finalmente desce do ônibus corre até o prédio de comércio exterior onde trabalha, sobe pela escada de serviço até a zeladoria e veste o macacão de serviço rapidamente. O chefe de Rufino nota o atraso e não o poupa da bronca.

Rafael olha no computador quais os afazeres do dia e em meio a preocupação não nota o cumprimento do rapaz que varre o chão da sala.

Rufino entra na sala da presidência varre o chão e dá um sorriso sem graça por não ter o cumprimento correspondido pelo presidente da empresa.

Hora do almoço...
Rafael almoça num fino restaurante, em companhia de uma das executivas da empresa (dez anos mais jovem) com quem mantém um caso.

Rufino almoça na zeladoria, em companhia das vassouras pensando na esposa e nos filhos ao chegar em casa.

Fim do expediente...
Rafael desce da sala e pega o carro no estacionamento, o dia de trabalho foi cansativo e uma enxaqueca o incomoda enquanto enfrenta o trânsito de Santos.

Rufino desce o jogo de escadas e mesmo com todos os ossos moídos, sente-se feliz de ter terminado sem maiores problemas o dia de trabalho. Caminha lentamente até o ponto de ônibus.

Uma hora depois...
Rafael chega em casa reclamando da incrível demora do trânsito da Cidade e bradando a sua mulher as dificuldades do trabalho.

Rufino em fim pega o ônibus e dorme no caminho do terminal de catraias.

21 horas...
Rafael olha pela janela e indignado afirma:
- Como pode uma favela estar na frente da minha cobertura? Isso atrapalha a minha visão do mar...

Rufino diz para a companheira que a ama. Olha pela janela e antes de fechá-la com um pedaço de madeira, conversa com sua amada:
- Amor, meu chefe é meu vizinho.

Isso é Brasil...

(*) A conto anterior é descrito com personagens fictícios, mas com cenário real, o apartamento descrito, fica na Ponta da Praia (paraíso santista da desenfreada especulação imobiliária). Já o barraco citado fica em Santa Cruz dos Navegantes (comunidade guarujaense, composta principalmente de pescadores, dividida entre palafitas e casas humildes, que carece inclusive de saneamento básico). O curioso é que um lugar fica de frente para o outro separado apenas por cerca de um quilômetros de Atlântico.

Para que diploma?(*)

Nossos amigos do Supremo deram uma grande idéia:
Vamos acabar com o diploma de jornalismo!

Afinal uma profissão que pode interferir diretamente na vida de uma (ou várias pessoas), que pode ser utilizada com ética (ou sem, afinal uma profissão não regulamentada não necessita de um código de ética), não necessita obviamente de diploma.

Mas deixo também uma sugestão (reforçando, sugestão. Pois de maneira alguma estou me considerando um jurista, pois não tenho o mesmo conhecimento técnico de qualquer um dos excelentíssimos senhores ministros do Supremo, que acredito, tomam suas decisões baseadas nestes conhecimentos, sem a menor interferência das elites brasileiras).

Eis a sugestão:
Por que não liberamos tudo de vez?
Afinal qual a importância de uma qualificação superior para o exercício de uma profissão?

Para alguns excelentíssimos senhores (reparou na elegância do termo), não há a menor necessidade de um diploma para o exercício da profissão de jornalismo. Não vou criticá-los, de maneira alguma.
Mas vamos liberar de vez:

- Também não é necessário ter diploma para fazer uma petição;
- Para fazer uma defesa no tribunal;
- Para erguer uma construção;
- Para fazer uma cirurgia;
- Dentre tantas outras coisas que exigem o maldito canudo...

Neste momento o jurista querido (digo doutor), me dirá:

- Mas isso envolve vidas...

E eu devolverei:

- Então quer dizer que o jornalismo não envolve?
- Quantas vidas podem estar na mão de pessoas desqualificadas devido a esta medida que vocês votarão?

Ele no alto de sua pose (afinal ele é doutor, sem ter sido mestre):

- Mas muitos dos profissionais formados em jornalismo agem sem ética.

Já cansado ponderarei:

- Pois bem "doutor", ou "ministro", em uma profissão que exige não só diploma, como também prova de ordem você encontra casos de falta de ética?

Caro amigo agora meu espírito anarquista começa a falar mais alto! Liberando o diploma de jornalismo abriremos o que os "doutores" chamam de "jurisprudência" (novamente repare na pompa da palavra, é chique né?), sendo assim poderemos liberar o diploma para advogados, para arquitetos, engenheiros, médicos, cirurgiões dentistas, entre outros tantos...

E se pensarmos eles estão com a razão... Para que estudar, no país da ignorância e dos interesses?

(*) Relato emocionado (indignado), de um mero estudante do terceiro ano de jornalismo.

sábado, 25 de outubro de 2008

love old history (*)

Birosvaldo Pereira Lima levanta às 6 da manhã. Faz seu aquecimento matinal, põe sua dentadura (que contém os caninos de ouro 18 quilates), se olha no espelho e, num misto de narcisismo com costume, demora muito tempo.Passa brilhantina no cabelo, põe sua calça jeans (Levi's - Birosvaldo não usa qualquer coisa), seu tênis de última linha e abotoa vagarosamente sua camisa florida deixando dois botões abertos para mostrar sua corrente de ouro.

Mais uma vez, confere seu sorriso e, por fim, coloca seus óculos escuros (modelo policial rodoviário).

Setenta e três anos de vida. Velho? Jamais.
- Minha vida só está começando...

A procura de um 'broto' (digo mina), sai o nosso querido amigo Birosvaldo (vamos chamá-lo de Biro para economizar o meu tempo e o seu!). Coça o cavanhaque e olha para os dois lados do calçadão da praia:

- Meu Deus, que brotinho!

Trata-se da Senhora Zeli!

- Senhora está no céu, seu infeliz!

Desculpe, desculpe... Zeli... Zeli...
Zelizeti Ferreira Albuquerque Costa, 70 anos, ou simplesmente Zeli (pelo amor de Deus sem o 'senhora') também acordou às 6 e penteou os cabelos bem tingidos de marrom.

- Acaju.

Novamente desculpe Zeli. Acaju (eu e o meu Daltonismo!!). Pois bem, penteou seus cabelos, pintou cuidadosamente o rosto e colocou seu melhor vestido. Tudo para conquistar um 'pão' (digo gatinho).

O encontro foi inevitável!

Biro olhou para Zeli e deu uma piscadela. Ela não se fez de rogada e retribui com um lindo Sorriso Corega (digo Colgate). O conquistador, percebendo a oportunidade, aumentou o passo e seguiu a 'coroa'.

- Filho d...

Gatinha... gatinha... E ao alcançá-la perguntou se poderia caminhar ao seu lado...Zeli permitiu. Assim começou um belo papo que seguiu até as 11 da manhã. Percebendo suas obrigações, a 'gatinha' tentou colocar Biro na sua agenda...

- Quer ir comigo até a farmácia? - perguntou Zeli.

- Claro. Também preciso ir! - disse Biro.

Começou a partir de então, uma linda história de amor na terceira, ops... melhor idade, regada a muito carinho, caixinhas de comprimidos (azuis principalmente) e festas noturnas nos bailinhos da saudade...

- De que adianta viver sem gosto, mas vale ser eternamente jovem! (afirmam os dois até hoje)

(*) Desculpe pelo título, meu inglês realmente é péssimo... Ai, ai, mais uma 'bela história' sem nexo nenhum, sem fundamento algum, sem graça e sem sentido criada por essa mente insana e regada pela falta de tempo! A tentativa (ressaltando: tentativa) dessa crônica foi chamar a atenção para o fato de que nunca é tarde (a não ser quando se morre) para se viver a vida!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Dia de vendas (*)

Quem nunca foi vendedor pelo menos uma vez na vida jamais vai compreender qual o sentimento de um bom dia de vendas e nem qual a dor de um dia de prejuízo. Por isso, me dói o coração cada vez que vejo alguém que trabalha desta forma voltando para casa sem ganhar o que precisava.

O bom vendedor sofre diariamente, mas sempre em silêncio, pois não pode transparecer o que sente ao freguês. Deve trazer sempre um sorriso no rosto independente da mágoa, do medo ou mesmo desespero de um péssimo dia de vendas.

Envolver sentimentos pessoais no momento de uma venda? Jamais. Vender é algo tão intenso que por si só já envolve milhões de sentimentos e não dá espaço a nenhum outro. O vendedor se desliga do restante do mundo e passa a viver seu mundo próprio no instante do trabalho.

Aprender a conversar mentalmente consigo mesmo. Esta é uma habilidade que os vendedores autônomos conseguem desenvolver ao longo do trabalho. Devido a proximidade de si próprio e distância do restante do mundo, os vendedores acabam tendo uma grande intimidade com eles próprios (únicos confidentes do desespero ou alegria de um dia de vendas).

Nos braços três vasilhas, em cada uma nove empadas, em casa mais 16 salgados, uma certeza: na cabeça, tenho que vender todas.

De porta em porta coleciono negativas, o desespero aumenta, o tempo passa, o salgado não sai.

- Meu Deus e agora?
- Pra que o desespero? Eu vou conseguir!Respiro fundo e sigo em frente...
- Ei venha cá - me chama um senhor no bar.
- O senhor quer empadinha hoje? - pergunto.
- Tem de quê? - De frango - respondo, mesmo tendo certeza da resposta.
- Ah, queria de palmito - responde o infeliz, rindo e tirando sarro.

Nervoso com a situação de não vender bem no dia e com o sarro do pobre coitado que se aproveitou, olho nos olhos dele. Sorrio e agradeço, pouco antes de sair.

Cenas como essa são normais, infelizmente. Continuo e, já quase sem esperança, uma senhora me chama (já estava na minha segunda volta pelo bairro e não sabia para onde ir).

- É de frango, né?
- É.
- Tem quantas?
- Na vasilha tenho 27.- Quero todas.
- Mas leva se tiver mais na minha irmã que mora na esquina.

Saí sem disfarçar a alegria. Nos braços, vasilhas vazias. No rosto, o sorriso e, no peito, a tranqüilidade.

A irmã comprou todas as restantes. Quem diria? Consegui!Com o sabor do dever cumprido, regressei, mas fiz questão de passar com as vasilhas vazias em frente ao infeliz do bar...

(*) O vendedor é um trabalhador solitário que convive diariamente com a alegria do sucesso ou decepção da recusa. Um dia de vendas é um entrelaçar de sentimentos que envolve muito mais do que aparenta. Tenho orgulho de dizer fui um vendedor.

sábado, 11 de outubro de 2008

O Verdadeiro (*)

Se um dia algum cãodidato (digo candidato) assumisse a real intenção de sua campanha...as eleições teriam programas políticos como o descrito abaixo. Logicamente essa campanha não existiu... Afinal, quem é o "Verdadeiro" na política?

Meu nome é Verdadeiro, seu candidato a vereador!

Não vim aqui para te enganar, nem para falar mentiras. Vim apenas para conquistar o meu lugar ao Sol.

Tenho 35 anos e, cansado de tentar enriquecer de maneiras ineficientes, quero chegar ao Poder Legislativo para tomar o seu dinheiro amigo eleitário (digo eleitor).

Pretendo conquistar poder e, com isso, satisfazer todas as vontades (minhas, é claro).

No meu mandato não faltará emprego (para minha família),
Não faltará dinheiro (para mim),
Não faltará lazer (para meus filhos),
Não faltará saúde (para todos os citados anteriormente)!

Se acham que sou pretensioso em declarar isso tudo, saiba que ao menos sou verdadeiro:

Não minto para você,
não tento te enrolar
e não conto historinhas para chegar onde quero.Quero primeiro chegar, para depois fazer história (de preferência uma linda história de enriquecimento próprio)!

Eleitor (não amigo eleitor, afinal não te conheço e nem sou seu amigo), sou meu amigo e tenho como principal prioridade a minha eleição.Conto com seu voto, mas se quiser compro ele.

Nessa eleição não seja enrolado por aqueles que contam historinhas.
Vote naquele que afirma que só quer o seu dinheiro.
Meu nome é Verdadeiro: 00001 e chega de mentiras.

Deus ilumine a cabeça daqueles eleitos pelos sem-cabeça ...

(*) Caro leitor, tudo nesta vida tem um preço. Se ao menos as pessoas assumissem a real intenção ao se candidatarem a algo, saberíamos em quem votar. Se quiser acredite que alguém gaste mais de R$ 100 mil em campanha (e olha que tem gente que gasta muito mais que isso!) para ganhar no máximo R$ 6 mil ao mês.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Artistas (*)

Muitos são aqueles que prestigiam os artistas, mas poucos são aqueles que os entendem... Pelas ruas da cidade, existem pessoas que correm contra o esquecimento, contra o cruel tempo que corrompe, entre tantas outras coisas, a memória das pessoas que um dia os aplaudiram.

Pessoas para conviveram nas vitórias e nos momentos felizes são muitas. Porém, aquelas que oferecem ajuda em momentos difíceis são raras.

José Francisco, um artista que muito contribuiu para emoção de todos aqueles que escutaram suas músicas um dia, hoje luta contra o esquecimento, contra a triste sina de todos os artistas: de nunca serem reconhecidos em vida.

Como se andasse ao som de um tango argentino de Carlos Gardel sobre a tristeza de um povo, José continua a viver, não por gosto, não por esperança, mas por teimosia! "Vivi até hoje batalhas muito maiores do que a que vivo hoje, não vai ser isso que vai me abalar", afirma.

Sempre com seu violão em punho, canta as tristezas e alegrias da vida, não por raiva, não por nostalgia, mas por necessidade. "Preciso da música para viver, afinal, sem ela não existo".

Numa esquina qualquer, quando encontra alguém para conversar, toca seu violão e encanta todos aqueles que param para escutar sua poesia em forma de música. No ressoar das notas, relembra os nostálgicos, apaixona os casais, reaviva a alegria dos entristecidos e sorri por um instante contagiado pelo mar de sentimentos ao seu redor.

Não, não é fácil entender um artista

Não tente, apenas aprecie... Os artistas foram feitos para isso. Não tente decifrar a genialidade do gênio, pois geralmente você não descobrirá o que quer e, mesmo que descubra, a magia perderá a graça do inalcançável e se tornará banal.

José muito contribuiu para o mundo com sua música, mas o mundo não retribui com gratidão o que recebeu. Em troca dá o descaso e o título de desconhecido ao notável artista urbano que caminha pela noite sem rumo, não porque não tenha para onde ir, mas porque o desconhecido o encanta...

Durante toda a vida, os homens o chutaram sem dó e o deixaram no esquecimento. O tempo fez mais uma das suas maldades e contribuiu com sua fúria. O destino deu a José de presente a solidão por falta de quem o entenda. Restou-lhe somente a noite, pela qual vaga em busca de paz, em busca do desconhecido.

A caminhada continua...

Mas antes que o tempo se finde, antes que a noite o leve para sempre, vem no peito uma paixão...

Como quem se lembra de algo, José volta em direção a casa da qual saiu. Sedento de carinho, abre a porta e, após subir a escadaria, ele a encontra, com semblante feliz.

Esperando por ele todo este tempo com o rabo abanando está sua fiel companheira... uma cadelinha vira-latas. "Nunca vi amor mais sincero. Ela sempre me espera. Não pergunta para onde fui e me ama mesmo que demore".

Talvez em alguma esquina da vida você encontre José com seu violão na mão, pois por teimosia ele não desiste de mostrar ao mundo o dom que recebeu apesar da ingratidão.

Caso não encontre José, encontrará uma outra pessoa que traz no peito a dificuldade da sobrevivência diante do esquecimento.

José é só mais um brasileiro...
Onde está nossa memória?

(*) Não existe nada que doa mais no peito do artista do que a falta do reconhecimento... Quantos são aqueles que caminham esquecidos neste país?

sábado, 27 de setembro de 2008

O jogo(*)

O tempo parece não passar, 15 minutos são uma eternidade, a cada instante sinto a temperatura do meu corpo aumentar. Não sei mais se vou suportar a pressão do meu coração, que pede para que eu feche os olhos e não veja mais o que se passa na minha frente.

Faltavam apenas 15 minutos para que acontecesse mais um daqueles milagres que só o futebol nos proporciona. O time considerado favorito, invicto no campeonato e com jogadores mais badalados perdia em uma manhã chuvosa, para o até então desacreditado time local, formado por atletas que recebiam a segunda chance no futebol e eram treinados por um perna-de-pau de 17 anos.

Naquela manhã, o recém criado SE União Náutica, treinado por mim enfrentava o todo poderoso SE Vila Fátima pelas semi-finais do primeiro Campeonato Metropolitano de Futebol Amador.

Em suas primeiras cinco partidas o Fátima ganhou quatro e empatou uma, marcou 13 gols e sofreu apenas dois. Já o União Náutica ganhou três perdeu uma e empatou outra, marcou 11 gols e sofreu sete.

Apesar de confiar no time que treinava e que foi ganhando corpo no decorrer do campeonato, era difícil para alguém crer numa vitória do União Náutica. Nem eu acreditava, mas não demonstrei isso a nenhum dos jogadores.

Senti então que era o momento de buscar o algo a mais. Só com futebol não poderíamos ganhar. E ao ver o riso dos adversários percebi uma chance de vitória...

Olhando para cada jogador observei o medo, a incerteza e percebi que deveria mudar isso de alguma forma, foi então que comecei a falar:

"Todos que aqui estão passaram por várias dificuldades, assim como eu também passei. Eles (jogadores do Fátima), estão rindo de vocês e de mim. Estão dizendo que já estão na final e reclamam de ter que jogar na chuva um jogo ganho. Não sei quanto a vocês, mas eu já cansei de ser piada no futebol, vocês também já devem estar cansados de serem menosprezados e humilhados, chegou a hora de mostrarem que em campo somos todos iguais e que eles cometeram um grande erro hoje!"

Nunca vi em toda minha vida tanta vontade no olhar de um time. Até eu a partir de então passei a acreditar na vitória!

Times em campo

Começa o jogo, e já no primeiro lance o Fátima parte para o ataque, em uma jogada rápida, os dois atacantes do Santos FC que jogavam pelo adversário tabelaram e chegaram de frente para o gol, mas Cláudio o goleiro até então inseguro se transformou em um gigante e defendeu de maneira brilhante o primeiro lance do jogo.

A pressão do Fátima diminuiu. A partir daí os guerreiros do União equilibraram o jogo e os ataques passaram a ser alternados. Meu coração já saia pela boca e percebi que não tinha mais voz. Logo o primeiro tempo acabava.

O intervalo passou de maneira rápida e o jogo logo recomeçou

Nada de água, nada de descanso, o time do União esperou de pé e os jogadores pediam apenas para recomeçar a partida. O desespero estava visível no olhar dos jogadores do Fátima, que não conseguiam impor o melhor futebol deles em campo.

O Fátima entrou em campo tentando acabar com o jogo, em ataques rápidos assustavam a meta do União, mas de forma heróica o time se defendia. Passaram-se 20 minutos, o técnico do Fátima esbanjando confiança na vitória, mandou desmarcarem o atacante Danilo e partirem para o ataque. Triste erro...

Danilo viu a forma como o técnico do time adversário se referiu a ele e transformou a raiva em futebol. Numa arrancada de contra-ataque do meia Iran, Danilo foi lançado de maneira brilhante pelo meia (nem eu acreditava no que via).

O atacante expulso de outros times por indisciplina, correu mais que a zaga, viu o goleiro adiantado e chutou por cobertura... Por capricho ou mero acaso do destino a bola subiu e beijou a trave, antes de entrar no gol!

Um a Zero União, o grito de gol tomava conta do lugar, perdi o equilíbrio e fui abraçado pelo amigo e autor do gol. A partir de então começava outro jogo e as emoções ainda aumentariam.
A torcida do Fátima pressionou o juiz e foram dados 10 minutos de acréscimo. A pressão era grande, a adrenalina estava alta e o capitão do União foi expulso após confusão, mas não tinha jeito a vitória era só questão de tempo.

Um último lance o atacante do Fátima dribla o goleiro e sem angulo chuta por cobertura, a bola bate na trave e vai para fora. O apito, o fim e a glória. Sim era possível.

Essa foi mais do que uma simples partida de futebol. Foi um jogo que representou muito para cada um dos seus participantes. Para mim foi uma vitória da qual precisava para ganhar confiança na vida, para os jogadores foi a segunda chance tão esperada, para os adversários uma lição de humildade. Mas tenho a certeza de que para todos foi inesquecível.


(*) Dedicado a todos aqueles que um dia foram menosprezados, mostraram que eram mais do que pensavam deles e deram a volta por cima.

sábado, 20 de setembro de 2008

Heróis(*)

Sempre fico indignado com a situação da sociedade, com a falta de amor, com a falta de esperança, mas aos poucos a humanidade prova que na mesma intensidade que produz seres odiosos, indignos do ar que respiram, produz também seres à frente do seu tempo, verdadeiros heróis.

Pude, com a ajuda de amigos que cobriram o caso, conhecer de perto a história do surfista Tony Andreo Villela, que perdeu a própria vida após salvar duas pessoas que se afogavam em meio ao mar revolto do Guarujá.

Os heróis são aqueles capazes de ir onde ninguém tem coragem, de lutar além de suas forças simplesmente para fazer o que julgam correto.
Sim, os heróis dão a própria vida se preciso para realizarem o que almejam.

Villela entrou no mar, em um momento que os próprios salva-vidas julgaram "imprudente", em um mar completamente descontrolado, próximo às pedras, onde era exalada a força da natureza por meio do que os gregos chamariam de ódio de Poseidon.
Mas o que é imprudente para um herói, quando se trata de salvar uma vida?

O surfista de 32 anos que, em 2000, trabalhou como salva-vidas temporário, desafiou o próprio medo e entrou no mar com uma prancha sem parafina e sem cordinha de proteção, para tentar salvar quatro surfistas paulistanos que mesmo contra a advertência dos locais insistiram em entrar no mar.

Dois desses surfistas conseguiram sair sozinhos do perigo, outros dois foram carregados por Villela até um local seguro e também conseguiram sobreviver...

O preço

Ao contrário do que muitos possam imaginar, os heróis não são imortais. Eles pagam o preço de suas bravuras, muitas vezes com a própria vida. Ao tentar voltar à praia, o surfista foi engolido por uma onda que o afogou.

As ondas que sempre foram dominadas pelo amante do mar, quando surfava entusiasmado na praia em que nasceu, foram as responsáveis por tomar a sua vida após o ato de bravura.

Valeu?

Villela era pai de uma filha de 12 anos, não conhecia nenhum dos quatro surfistas que tentou ajudar e sempre foi um apaixonado pela praia onde desde a infância surfou. Existem momentos em nossas vidas que apenas uma escolha pode mudar todo o restante da trajetória.

Já vi casos de pessoas honradas que viveram a vida inteira sem ter feito algo realmente marcante, do qual pudessem se orgulhar e servir de exemplo aos outros.

Talvez para essas pessoas, oportunidades como essa tenham aparecido, mas simplesmente pensaram com a prudência e não com o coração como fazem os heróis.

Villela morreu e, com toda certeza, sua família está entristecida com esse fato, mas ao mesmo tempo se orgulha de ter criado um verdadeiro herói. O surfista teve na sua frente uma oportunidade única de fazer o que a razão lhe aconselhava ou, simplesmente, fazer o que seu coração de herói mandava.

Ah, sem dúvida como pudemos observar nosso amigo (tomo essa liberdade devido a admiração que criei por ele) provou que realmente é um herói que está acima de todos nós, pois abriu mão da própria vida para fazer o que julgava certo.

Quantos de nós faríamos o mesmo?
Quantos pensaríamos com o coração?
Só o tempo poderá dizer...

Mas a nós simples mortais resta-nos exaltarmos a ação de Villela e contarmos sua história a todos que conhecemos, para que ela se torne eterna.

(*) Dedico esta crônica a todos os heróis de nossa sociedade.
Todos aqueles que ao menos uma vez na vida pensaram com o coração!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Frio no Litoral (*)

Quinze graus marca o termômetro da praia, as pessoas passam como o tempo, sem pedir licença, também sem pedir permissão vivem às sombras da sociedade os excluídos urbanos, clamando por um pão, tremendo de frio e envergonhados da própria existência.
"Não tenho culpa de existir, deve clamar um desses sofredores", tentando apenas sobreviver ao calvário que lhe foi imposto ao nascer.
No Gonzaga, dentre as pernas que passam acima de quem se deita no chão estão estes sofredores deitados no frio, saboreando a própria dor e conformados, resignados com o destino...
Por que tantos sofrem? - Já me perguntei diversas vezes sem obter respostas.
Lembro-me do dia mais frio da minha vida...
Uma reportagem no Guarujá, Bairro do Canta Galo, no carro o frio tomava conta do meu corpo, sentia uma dor imensa na garganta e percebia que a gripe seria inevitável. Belo primeiro dia de inverno! - menos de 10 graus e chuva insistente (pensei).
Fomos chegando ao destino da matéria.
- O Bairro é muito pobre? - perguntei ao motorista, que me fazia companhia juntamente com a fotógrafa.
- Um dos mais esquecidos da Cidade... - respondeu
O asfalto acabava, ao mesmo tempo em que a lama aumentava.

Acabou o asfalto começou a lama de vez.

Barracos mal acabados dividiam espaço, com olhares que traziam medo e sofrimento.
Antes mesmo de parar o carro fomos cercados por moradores que pediam que ajudássemos... Cena de terror que jamais esquecerei...
A Polícia cumpria ordem judicial e expulsava famílias de seus barracos em pleno dia de chuva, crianças estavam abrigadas em pedaços de telha, mulheres choravam e alguns homens tentavam impedir o inevitável...
Não demorou para que um homem entrasse em confronto com a polícia, sangue, cassetete, grito, dor...
A polícia conteve o rapaz em pouco tempo, que foi levado para o atendimento médico no Hospital Santo Amaro juntamente com um dos policiais feridos no confronto.
Uma corda separava os barracos que seriam derrubados, já passava das 14h30, a derrubada começou as 7 horas.

Decisão judicial se cumpre e não se contesta

Era obrigação dos PMs derrubar os barracos, podia ver no rosto de alguns muito sofrimento por terem que tirar a casa de pessoas, numa noite fria e chuvosa. No entanto, há sempre aqueles que se divertem com o sofrimento alheio...
Nervosa com a demora para que a ordem judicial fosse cumprida, uma advogada pedia rapidez aos policiais, que aguardavam pacientemente, o dono de um dos barracos retirar seus poucos móveis de dentro do local.
Mediante a tanta dor, a mulher juntamente com outro policial se divertia, ao falar que encontraram galinhas dentro de um barraco.
- Galinhas criadas por porcos - disse ela caindo aos risos ao lado do policial que também ria e satirizava a situação dos futuros desabrigados.
Sim, decisão judicial se cumpre e não se contesta, mas para tudo existe humanismo...

Justiça?

Nove barracos derrubados... famílias jogadas a Rua e o dono do terreno pode ter sua posse re-apropriada.
Justiça!
Foi cumprida a ordem judicial...
Onde ficarão as famílias?
Onde dormirão nas noites frias?
Talvez num albergue, num abrigo, ou na rua do Gonzaga, onde caminhava numa dessas noites frias para fotografar.
Creio em Deus e numa justiça divina, mas a cada vez que presencio coisas como a que descrevi anteriormente algo perturba meu coração... Tremo de indignação, assim como diversos companheiros, choro como chorei naquele dia... Tamanha dor, tanto sofrimento...
O que algumas pessoas fizeram de errado? Nasceram?

(*) Para todos aqueles que sentiram na pele o frio da indignação...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Espera na rodoviária... (*)

Diante da velocidade da vida e da necessidade de sempre correr para fazer algo, damos pouco valor aos instantes livres, aos momentos de contemplação, como por exemplo, os minutos em que esperamos um ônibus.

Todos os momentos da vida têm poesia, mas dependem muito do olhar de quem os vive. Neste mês, passei alguns dias na rodoviária de Santos e em pouco tempo fiquei impressionado com a quantidade de histórias marcantes e cenas diferentes que presenciei. O relato a seguir trata de um desses dias.

Um casal de aproximadamente 50 anos andava pela rodoviária. O homem olhava ao seu redor como se estivesse perdido. Sua mulher, ao lado, tocava em seu braço e pedia para que ele se acalmasse.Sozinho e sabendo que ainda esperaria ao menos mais uma hora, fui ao encontro do casal e perguntei se poderia ajudar.

- Meu filho, você sabe qual a plataforma do ônibus que vai para Belo Horizonte? – disse o senhor.
- Estou com medo que o meu ônibus tenha partido.
- Você pode ler meu bilhete? - pediu a mulher, logo em seguida repreendida pelo marido.
- Claro! Aqui diz que é na plataforma seis, às 18h30. Agora são 18 horas, a plataforma seis é aquela - expliquei, apontando para o local.

A mulher, então, tocou meu braço e agradeceu. O senhor, ainda irritado com o pedido da esposa que, sem querer, expôs seu analfabetismo, seguiu sem dizer mais nada.Logo voltei à plataforma nove e segui na minha espera.

Do banco onde estava, podia observar outra cena curiosa: uma mulher e um menino de aproximadamente seis anos desciam de um ônibus vindo do Nordeste, na plataforma três.

O menino parecia surpreendido com o que via ao seu redor. Olhava para todos os lados e o brilho no seu olhar era evidente. Eu, no alto da minha curiosidade, queria ao menos por um segundo saber o que se passava naquela cabecinha, quantos sonhos, medos e esperanças se passavam a cada segundo.

A mãe do menino carregava três malas e trazia em sua face o sofrimento, característica do rosto das mães brasileiras que lutam pela felicidade do filho. Em poucos minutos me emocionei.O menino puxou a mãe pela perna e se escondeu entre elas, deixando claro o seu medo.

Logo ambos partiram da rodoviária.Atônito e ansioso, eu olhava para o meu relógio, 18h50, e nada do ônibus.Abri uma revista e tentei começar a ler. Foi quando uma senhora idosa sentou ao meu lado e passou a olhar insistentemente para mim.

Ela quer conversar, logo pensei...

- Já passou o Ponta da Praia? – disse ela.
- Não vi.
- Ai, meu Deus, perdi o ônibus de novo. Não acredito!
- Calma, senhora, logo passa outro.

Conversei com ela até que seu ônibus passasse e ouvi histórias tão boas que precisaria de ao menos três páginas para relatar uma.

19h20 minutos, o ônibus não chega...

Eis que vejo um ônibus aparecer na frente da rodoviária. Levanto-me e olho mais à frente.Sim, acho que é ele! Pego minha única mala e coloco nas costas, meus capacetes ficam nos braços. O ônibus pára e espero todos descerem até enxergar o rosto dela.

Sim, é ela...

Também tenho minha história de rodoviária. Passei cerca de uma hora e meia esperando minha namorada que vinha de São Paulo.Eu a abracei e a beijei como se fosse um último reencontro, mas sabia que no outro dia a rotina se repetiria.

Todos os lugares guardam histórias marcantes e personagens da vida.
Acredito que talvez nunca mais veja alguns desses personagens. Mas de um jeito ou de outro eles fizeram parte de minha vida.

(*) Esta crônica é dedicada à pessoa que me fez olhar o mundo de outra maneira e enxergar cada segundo como sendo especial. Como você vê, ganhei mais uma leitora, minha namorada Ariany. Agora tenho quatro leitores... Pela ordem: ela, minha mãe, a professora que me agüenta há uns três anos escrevendo essas doideiras, e meu professor que também é maluco para ler isso até o final! Poucos cronistas podem dizer que conhecem os leitores pelo nome...

sábado, 26 de julho de 2008

Férias

Meus amigos estou de férias volto na primeira sexta-feira de Agosto

Políticos tem recesso parlamentar e eu tenho recesso vagabundar!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Temp (*)

Talvez um dos grandes problemas da sociedade seja a necessidade da velocidade em todos os setores, tanto emocional, social, quanto profissional... João Epaminondas Virgulino Ostorgojijo é apenas mais um dentre milhões...

João acorda mais um dia... Abre os olhos e encontra a luz como sua maior inimiga, impedindo sua visão e causando dor. Levanta mesmo a contra gosto. O cheiro do café parece acordá-lo, diante do sono insistente e petulante.

Contra sua própria vontade levanta, busca sua xícara de café, toma em um único gole. Engole o pão em poucas mordidas... Loucamente corre contra o tempo, mais se molhando do que tomando banho, enfia as roupas com pressa, diante da dificuldade imposta pelo tempo escasso, levanta-se e corre em direção ao ponto de ônibus.

Corre e grita, em direção ao veículo em movimento. Alcança-o, mas não encontra um lugar vazio. Coloca-se então em um pequeno espaço, de pé, ao lado de um idoso a tossir e de uma senhora acima do peso que espreme ele contra o banco lateral. Depois de uma hora, avista sua parada de longe... alcança a corda, faz sinal, desce do ônibus e se dirige ao seu emprego.

Do ponto a loja são dez minutos de caminhada... o caminho tornasse maior a medida que o tempo passa. Os metros passam a se tornar quilômetros e os minutos se tornam segundos. O atraso é iminente e João, em um ato de puro nervosismo, joga seu relógio ao longe. Lembra da bronca que dará seu patrão pelo atraso e começa a sentir um desconforto no seu estômago.

João chega ... O patrão regula seu olhar e faz um leve sinal de negativo com a cabeça. O uniforme no armário está lavado e preparado para o uso. O corpo está suado e cansado da pequena maratona matinal cotidiana vivida por João. Oito horas passam como oito dias.

O caminho de volta aparenta ser mais lento do que o caminho de ida, o ônibus lotado contribui para o mal-estar da viagem longa. Enfim, à casa (digo barraco), João chega novamente, cumprimenta o cachorro como se fosse gente e olha no espelho apenas por costume. Come qualquer coisa e dorme um pesado sono de pouco mais de cinco horas.

Mais um dia nasce e a luta continua...

Quantas pessoas não vivem como João?
Quantas pessoas apenas passam e não vivem?
Do que vale viver na servidão do tempo?

Também sou um escravo do tempo, vivo o tempo que tenho no pouco tempo que resta e sinto que a cada dia tenho menos, olho no espelho e não me encontro a cada dia.
Sim... o tempo é o pior inimigo do homem... Mas o homem não tem tempo de reclamar dele.

(*) Desculpem o título, mas novamente advirto que esse não é o meu forte... e o tempo que tinha para digitar o "o", gastei vivendo um pouco mais...

sábado, 31 de maio de 2008

Educassaum Bazica II (O Retorno) (*)

Vamos todos louvar a educação paulista!

Já estamos evoluindo muito, nossos alunos do ensino público conquistaram em 2007 o título da oitava melhor educação do Brasil. Ótimo resultado! Se fosse no Brasileirão, estaríamos na Copa Sul Americana.

Não, não pense que é brincadeira. O índice da nossa educação foi esplendido! Nossos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental conquistaram a impressionante média de 2,54 pontos. Os alunos do 3º ano do Ensino Médio mostraram que não ficam atrás, conquistaram uma média de 1,41 pontos. Vale lembrar que a avaliação é de 0 a 10 pontos.

Fico imaginado nossa menina Educação Pública chegando ao gabinete do excelentíssimo senhor governador do Estado e lhe apresentando o boletim.

- Pai chegou meu boletim...
- Nossa, filha, essa sua nota está um absurdo!
- Puxa, pai, olhe pelo lado positivo! Existem 19 estados mais peores (sic) do que eu...
- É, filha, deixa pra lá...

Deixa pra lá mesmo, o papai está certo! Vamos é comemorar! Afinal, poderia ser pior! Com as condições de ensino que o Estado mais rico da união dá aos seus alunos, fico impressionado com a oitava posição da nossa educação.

Estudei o Ensino Médio numa escola estadual e sei do que estou falando. Infelizmente, muitos são os professores desmotivados e os alunos semi-analfabetos. A estrutura oferecida também não é das melhores. Os prédios de escolas estaduais são, na maioria das vezes vítimas, do descaso e do vandalismo.

O resultado triste do nosso ensino apenas reflete o investimento feito (?) ao longo dos últimos anos. Nossos heróis (digo professores) sabem bem disso e reivindicam aos berros por melhorias no sistema de educação para que nossa menina ainda tenha algum futuro.

Mas, meus queridos amigos leitores, não se aflijam! Pois nosso querido papai (Estado) tem grandes metas para corrigir os erros do passado:

Até 2010, o Estado espera que 41,2% dos estudantes na 4ª série estejam nos níveis "adequado" e "avançado". Na 8ª série, 28,2% em "adequado" e "avançado". No Ensino Médio, 16,6%.

Nosso futuro está garantido!

Investimentos abaixo da média, notas abaixo da média e metas abaixo da média... Teremos um país abaixo da média?

(*) Como todo filme trash merece uma continuação mais trash ainda... Com as crônicas não poderia ser diferente. Também assim economizo minha criatividade para títulos que, percebe-se, é pequena.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Vitória? (*)

Um dos meus personagens preferidos na literatura é o colombiano 'coronel Aureliano Buendia'. O personagem central do livro Cem anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marques é ao mesmo tempo marcado por seu heroísmo de não desistir nunca de uma batalha, como também pelas suas derrotas em todas as 32 das quais participou.
Ao mesmo tempo que podemos afirmar que Buendia não desistia fácil de seus ideais, podemos também dizer que ele foi vencido pela febre incessante da vitória e que a busca constante pela glória, o fez naufragar numa vida sem sentido de batalhas em vão, que culminou com o seu esquecimento pelo povo.

É triste pensar desta forma, mas muitas vezes percebo que as pessoas são sugadas pela ânsia de vencer e esquecem de tudo o que as rodeiam.

Eu mesmo... Desde o início de minha vida (que não é muito longa), tento ser o melhor em algo:
o melhor filho, o melhor na escola, o melhor amigo de alguém, a pessoa que alguém mais ama, o melhor no futebol, no basquete, na sinuca...
No entanto, uma daquelas piadas prontas da vida, sempre tornou esta minha batalha em vão... Nunca fui o melhor em nada destas coisas que enumerei anteriormente... Convivo sim constantemente, com a síndrome da medalha de prata, do vice-campeonato.
Mas o pior disso tudo, é que só agora eu percebi, que a ânsia de vencer me fez perder tudo aquilo que realmente importava (curtir cada momento da vida, por pior ou melhor que ele possa parecer, pois eles não voltam).

Isso já deve estar com uma cara de auto ajuda melodramática! Portanto prometo ser breve em minha conclusão!

Só alcança a vitória aquele que não tem ela como objetivo principal. A voracidade da sociedade tem nos tornado cada vez mais auto-destrutivos e ao continuarmos neste ritmo, vamos conseguir nos destruir.
Até quando nossa vitória vale o sofrimento de outra pessoa?
Quando a vitória se torna algo tão imprecindível que toma o lugar da moralidade?
Até que ponto o prazer momentâneo (no entanto gigantesco) da vitória, vale mais do que a contentação gradual da contemplação?

O lado bom da vida é que a cada dia ela nos oferece uma escolha...
O lado ruim é que independente do que escolhermos conviveremos com a dor da não escolha!

O que nos cabe é escolher de acordo com o nosso objetivo!

* Sei, meus amigos leitores que este é um tema mais do que corriqueiro, mas é algo com o que convivo desde que me conheço por gente, seja pelas minhas conquistas, ou pelos momentos em que ela está tão distante...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Polítia (*)

Existem pessoas que dizem não gostar de política, que não discutem sobre o assunto ou até chegam a ter a pretensão de dizer que são apolíticos. Concordo que cada vez fica mais difícil saber em quem votar nas próximas eleições. É quase como uma formula aritmética: conhecimento dos bastidores + desgosto + indignação = mal-estar, nojo.
No entanto, me revolto a todo instante quando acusam injustamente as pessoas, como é o caso de nossos queridos amigos políticos.

 Não me conformo em pensarem que o dólar estava na cueca por estar escondido! (Na verdade, ele temia os juros e impostos bancários, e resolveu guardar na poupança);
 É triste quando dizem que ele sabia (Se soubesse não faria tanta besteira);
 Não creio quando afirmam que, aquele outro político, estava envolvido no desvio de verba para as casas de lazer noturno para adultos! (A assinatura foi dele... mas ele não leu o que assinou).
 O aluguel de carros não estava superfaturado! (É... que às vezes os vendedores enganam as pessoas).
 Fico indignado quando dizem que privatizou para ganhar algum lucro. (Na verdade foi uma atitude de dividir para ganhar. Todos devem ganhar! Nossa, que bonito!).
 Ele não comprou o voto! (Apenas agradou, por livre e espontânea vontade, a população com algo. Se ficou grato e votou nele, foi uma escolha democrática).
 A retirada das famílias não é por motivos meramente marqueteiros políticos. (Na verdade, as famílias poluem mais que as fábricas na Mata).

Tudo isso nos leva àquela antiga e infeliz campanha:
Vote consciente! (Consciente de que comete um erro independente de sua escolha)

Porém, também vale lembrar que o desrespeito ao povo só ocorre devido à passividade crônica de nossa população, que se deixa enganar por ser cômodo, por não contestar quem está no poder.
Enquanto a pseudodemocracia imperar em terra tupiniquim, os excelentíssimos senhores de terno se revezarão no poder eternamente, oprimindo todo o povo brasileiro.

*Qualquer coincidência entre os fatos mencionados e os políticos brasileiros ou da Baixada Santista é mera semelhança. Novamente volto a afirmar que tudo isso que escrevi é resultado de um distúrbio mental materializado em um momento de grande ansiedade.

sábado, 10 de maio de 2008

Educassão Bazica (*)

Amigo leitor, não se assuste. O título não é um atestado de burrice deste que vos escreve (apesar de já merecer há tempos). É apenas um aperitivo para que você entre no clima da história que será narrada.
Alcebíades era um rapaz de 23 anos que estudava no E. E. Primo Ferreira, em Santos. Era o exemplo perfeito daquele comercial tonto de que o brasileiro não desiste nunca. E ele não desistiu. Pela terceira vez consecutiva, nosso herói cursava o terceiro ano do Ensino Médio. Sim, ele repetia e tentava novamente. Supletivo? Nem pensar! Ele estudava de manhã e trabalhava à tarde.
Justamente naquele ano, uma esperança se acendeu no coração de Alcebíades. Ele tinha sido aprovado em todas as matérias (menos uma). Faltava para ele a prova final de geografia. Mas sua missão não era das mais fáceis. Precisava tirar oito para ser aprovado. É nesta hora que entro na história (não é um ataque repentino de síndrome de ROBERT... eu fiz parte disso!).
Vendo o desespero de meu amigo, que quase chorava no dia de tão nervoso que estava, resolvi ajudá-lo.
- Alcebíades, senta do meu lado, no fundo da sala, que eu te dito todas as respostas.
- Cara, muito obrigado! Obrigado mesmo, estudei a noite inteira, mas tem umas coisas que não entram na minha cabeça.
Foi então que a professora começou a ditar a prova. Respondi a todas as questões rapidamente, e comecei a ditar as respostas para Alcebíades. Nosso amigo respondia rapidamente conforme eu ditava. Eram quatro questões. As três primeiras valiam dois pontos e a quarta valia quatro.
- Ivan, a quarta eu sei fazer.
- Você tem certeza? Se errar a quarta já era.
- Meu amigo, essa eu tiro de letra.
- Mas lembra de, no final da prova deixar um recadinho, que a professora fica com pena. Pede pra ela te ajudar mesmo. Falou, boa sorte!
Foi nesse momento que me deu um frio na espinha e fiquei mais apavorado do que ele. Mas não poderia impedi-lo. Sua confiança era tanta que senti o momento de deixá-lo trabalhar sozinho.
A seguir, segue um relato fiel da questão da prova. Não se assuste, nem ria. Esta é a resposta de um rapaz que passou ao terceiro ano do Ensino Médio no Brasil:

" Faça uma breve explanação a respeito do buraco na camada de ozônio, suas causas e efeitos. Fale também um pouco sobre a questão da Amazônia e seus problemas atuais.

A camada de Osono é cauzada pelos avioins que sobrevoa as nuvem do nosso paíz sem ter uma forma de impedir que o gás saia das turbinas impedindo que os ventos se tampem e impeção a pasagem da luz solar.
Também sei que a fumasa dos homem que fuma se junta a fumasa dos avioins com a fumasa da fabrica a fumasa dos caminhoins a fumasa dos carros a fumasa da maconha a fumasa das cozinha formando uma fumaseira queaumenta a camada de Osono. Os efeito da camada de osono são os canseris que invadem a pele das pessoas que não passam bronzeador.
Já a Amazonia sofre com os mals do trafego de drogas, que vêem dos paízes vizinhos, como o Paraguai e etc. as drogas são entaum vendida pelos índios aos imigrantes da América que levam ela para ser vendida em varias boca, inclusive perto do colégio.

Professora, lembro a senhora que estou me esforsando muito para passar este ano na escola, não sou de fazer zuera na sala e pesso encaressidamente a sua ajuda.

Obrigado, Alcebíades."

Por motivos claros, nosso querido herói provou que é brasileiro e tentou pela quarta vez a sorte no Ensino Médio. Não sei como, mas ele passou na quarta tentativa.

É... hoje ele ostenta um diploma de segundo grau completo.
Há quem diga que Alcebíades tem um sonho: ser um dia presidente do Brasil.
Só posso dizer a ele...Siga em frente meu amigo você está no caminho certo!

*Por mais que lhe pareça absurda, a história a seguir é real. Trata-se de um relato de um momento de minha vida em que pude conhecer a eficácia da educação brasileira. Por questões óbvias (não sei explicar, por isso digo que é obvio), o nome do herói da história está trocado.

domingo, 13 de abril de 2008

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Serafim Alonso. Hã? (*)

Em uma das salas de um dos cursos da Unimonte, Serafim Alonso estuda ...?
Não é difícil descrever Serafim, um morador de Pequenópolis, amante de futebol, de raciocínio rápido e esperteza inigualável. Um rapaz de prontidão sempre.
Sua resposta já é quase um jargão incorporado à sua pessoa.
- Serafim!!!
- Hã?
É esta a resposta de Serafim a 99% das perguntas que lhe fazem. Ele é um daqueles personagens que se perdem sozinhos nos próprios pensamentos. Não é culpado de ser distraído. Na verdade, não é distração. Ele é apenas um sonhador que vive acordado, mas envolto por seus pensamentos.
Apesar da versão, digamos favorável, de nosso querido herói, não posso afirmar com toda certeza o que ele pensa. Ao mesmo tempo em que Serafim pode apenas estar pensando no jogo de ontem, na bunda daquela ou nos exuberantes seios da outra, pode também estar pensando na cura para o câncer, na paz na Palestina, no Futuro, no Passado. Ou simplesmente estar pensando em nada. Estaria, então, nosso querido amigo apenas em stand by, descansando, desvivendo, despensando, mas sonhando?
Não!
De maneira alguma posso julgar Serafim. Confesso que muitas vezes durmo acordado. Em todos os lugares que você possa imaginar, estou presente de corpo e longe de pensamento.
Afinal isso é bom?
O que será que vale mais a pena: viver acordado na estupidez do mundo? Lutar para mudá-lo? Sofrer a cada derrota cotidiana contra a inveja, a maldade e a desesperança?
Ou simplesmente sonhar, se deixar levar pela corrente do ostracismo?
Se perder nos próprios pensamentos? Tudo numa enorme rede de sonhos reconfortantes, mas como todo sonho: irreal.
Deixando a filosofia de lado e voltando a Serafim, podemos dizer que ele está... (do que falava?) meio perdido.
É, rapaz... O grande risco de fugir de seu corpo é não conseguir voltar. Talvez em uma das incríveis viagens de Serafim ele deva ter se perdido na esquina do sonho, cruzamento com esperança, que fica de frente para a realidade, mas distante mil milhas dela.
No conforto da fantasia, busco refúgio nos meus momentos de dor e vivo constantemente na selva da realidade. A cada dia sonho menos, fico mais cético, perco um pouco mais da esperança na humanidade. Muitas vezes, com tantas pessoas que vivem “ligadas” 24 horas por dia, o mundo só precise de algumas pessoas que só querem sonhar um pouco sem serem interrompidas pelos incomodados.

Para quebrar um pouco o gelo desse texto sério e reflexivo, segue a seguir o classificado do Ivanzão. Lembre–se, seu recado estará exposto a milhões de pessoas na internet e a umas cinco que lêem o que escrevo:
“Vendo a dentadura de meu marido, apenas cinco anos de uso, único proprietário falecido ontem. Tratar dona Matilde: Matilde@curiso.com”
“Perdi carteira com R$ 300,00, favor entregar no CPP de Santos. Mano Zoinho X 42”.“Oi, mãe, tô na internet! Desocupado no MSN”


*O autor dessa birosca sem sentido informa que qualquer semelhança entre algum conhecido e Serafim Alonso é mera coincidência. Tudo o que foi escrito foi criação da mente deste louco (EU).

sábado, 5 de abril de 2008

Sopa de letrinhas

ICMS, IPVA, IPTU, ISS, FNDE, IPTU, ITR, IOF, ITBI, ITCMD, IPI, PIS, PASEP, AFRMM?! Não é estranho as pessoas não entenderem o que pagam quando o assunto é tributo. Além disso, o 'abençoado ser' que cria um novo imposto tem sempre um nome criativo para ele, e uma causa nobre para o tributo, sempre imprescindível para o bem da Nação.
Na verdade, em meio a essa sopa de letrinhas, também estou com vontade de criar meus próprios impostos. São também muito criativos. Tenho quase certeza que muitos o pagariam e não saberiam ao certo o que estão pagando. São eles:
- ISFE (Imposto Sobre Flatulências no Elevador): cobrado de todos os usuários de um elevador e a verba será revertida às vítimas físicas e psicológicas que sofrem com os covardes infratores do ato;
- IPCBU (Imposto Para Conservação dos Buracos Urbanos): imposto destinado aos buracos históricos localizados nas vias brasileiras, que devido ao seu valor sentimental de existência, devem ser conservados, para que nossos netos também xinguem o administrador público;
- ISVMCQTF (Imposto Sobre o Vizinho Mau Caráter Que Toca Funk): mais uma cobrança necessária. Todos os moradores de locais cujos vizinhos tocam Funk deverão pagar um montante para os que desejam descansar e desfrutar de um domicílio à prova de som, e não ficar escutando um analfabeto cantando "CREUUUUUUU";
- IPAMMF (Imposto Para Auxilio a Mulheres Muito Feias): imposto de suma importância, pois servirá para que mais pessoas, tirando aquelas desesperadas, dêem um auxilio sentimental àquelas mulheres sem solução;
Realmente eu poderia ficar o dia inteiro escrevendo mais idéias de como tirar mais um pouco de dinheiro dos bolsos do povo, para o divertimento das autoridades. Com cartões corporativos, ou em viagens para a Lua (com incríveis estudos sobre a plantação de feijão no algodão), ou Antártida, para nosso digníssimo amigo curtir um friozinho (opa, falei demais).
Talvez eu devesse criar o ISJPQEP (Imposto Sobre o Jornalista Pentelho Que Está P...), imposto cobrado dos pentelhos que acham graça na desgraça e não tem o que fazer.
Até a próxima edição.

Faço empréstimo pessoal! (*)

Veja só esse anúncio:
Pego seu dinheiro emprestado! Pago bem! Dou 0,54% do valor que peguei emprestado para você no final do mês! Não perca essa oportunidade!
Não é uma das 10 melhores propagandas do mundo, mas por incrível que pareça é isso que os bankuls fazem. Eles ganham dinheiro com o nosso dinheiro.
Não entendeu? Vou desenhar...
Os bankuls ganham dinheiro quase sempre utilizando o dinheiro dos outros, ou seja, quando você guarda seu dinheiro na poupança, você não está guardando, está emprestando ao bankul. Ao término de um mês, o bankul te paga 0,54% de juros, mas empresta novamente seu dinheiro a 5,4% ao mês. O bankul tem um lucro de 100%, sem gastar um centavo.
É, se você ainda não entendeu, me empreste seu dinheiro! HUMPF!
Vou desenhar em letras garrafais...
O dinheiro no bankul não está aumentando para você, mas para o bankeirol!!!
Claro que sou apenas um pleiteante a jornalista, não sou nenhum expert em economia. Pra falar a verdade, nem gosto do tema, mas, porém, todavia, contudo... você pode acreditar em mim ou no gerente do bankul que te faz abrir uma poupança (será que ele tem algum interesse em que o bankul lucre?). Aproveite e acredite em Papai Noel, em coelhinho da Páscoa, em virgindade depois dos 20 anos, na Loira do Banheiro e que o Zangado é técnico!
No mais, uma boa semana aos meus leitores... (minha mãe, a professora que tem que corrigir, portanto é obrigada a ler, e aos meus amigos que por amizade lêem e, quem sabe, se eu tiver sorte, alguém que entrou no site errado. A todos vocês, brigaduuuu!)
Pensamento filosófico:Antes vale um na mão do que dois no bankul!
(*) Aos que queiram me processar, qualquer semelhança entre banco e bankul é mera coincidência. Vale lembrar também que sou duro!!